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Arthur Veríssimo no Trip FM

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@alepotas

Arthur Veríssimo no Trip FM

Arthur Veríssimo no Trip FM

A conversa é com o repórter gonzo-perdigueiro da revista Trip, Arthur Veríssimo, que estreou esta semana um novo programa no Discovery Channel, o Na Fé com Arthur Veríssimo.

No Trip FM, o Arthur vai contar um pouco sobre esse programa, que como o próprio nome diz, vai tratar de temas como fé, religião, espiritualidade e religiosidade. Além disso, Arthur conta sobre suas imersões nesses universos, do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, ao universo dos zumbis e do vodu haitiano, passando ainda por Peru, Cuba e Bolívia.

Arthur conta ainda causos sobre suas reportagens mais interessantes para a Trip, como a entrevista com Senor Abravanel, ele mesmo, Sílvio Santos, entre outras aventuras e presepadas.

Na Fé com Arthur Veríssimo é exibido no Discovery Channel às quartas-feiras, 22h30, com reprises sábados às 19h. 

Playlist da semana:

Bo Didley - You Cant Judge a Book by the Cover
The Zombies - Time of teh Season
Donovan - Season of the Witch
Bareto - Vacilando con Ayahuasca
Willie Nelson - On the Road Again


TripTV #36: Gangrena Gasosa

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Conversamos com a banda Gangrena Gasosa, grupo que marcou época no Rio de Janeiro dos anos 90 com seu Saravá Metal. No caldeirão que compões o estilo vai rock pesado temperado com elementos bem brasileiros, como a umbanda, a macumba e o universo dos filmes de terror do Zé do Caixão. Conhecidos por jogar despachos de encruzilhada no público durante seus shows, a banda se gaba: "Esse lance de incomodar é bom porque a gente acaba incomodando todo mundo. A gente já incomodou o Silas Malafaia, o Edir Macedo, já fomos capa do jornal Folha Universal...".

Esse vídeo é parte integrante do programa TripTV #36 

TripTV, o programa semanal da Trip, vai ao ar pela Mix TV todos os sábados, às 23h, com reprises às terças, às 23h30, e quintas, às 23h45

Milhem Cortaz

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Divulgação

Milhem Cortaz

Milhem Cortaz

E no programa desta semana a gente recebe o ator Milhem Cortaz. Ele que se destacou interpretando o capitão Fábio, aquele que “pede pra sair” no filme Tropa de Elite, vem falar sobre sua infância em São Paulo, sobre o tempo que morou na Itália, sobre casamento, paternidade, sobre suas habilidades nas prendas do lar e, claro, sobre cinema, Fátima Toledo, teatro e mais um monte do coisa bacana.

Ele se dedica há 25 anos às artes cênicas, já fez mais de 40 filmes, 10 novelas e incontáveis séries, minisséries e espetáculos teatrais. Paulistano do bairro da Aclimação, seu primeiro contato com o teatro foi aos 13 anos, em uma igreja da Moóca, mas sua formação veio mesmo com os estudos na Piccolo Teatro di Milano, uma das mais respeitadas companhias da Europa, sediada na Itália, e nas famosas escolas brasileiras de Célia Helena e Antunes Filho. Ator contratado da Record desde 2004, ele ganhou bastante notoriedade nos últimos anos através do cinema, onde, graças ao seu talento, elevou alguns personagens coadjuvantes à condição de protagonistas. 

Cissa Guimarães

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Divulgação

Cissa Guimarães

Cissa Guimarães

Prestes a completar 40 anos de profissão, a atriz e apresentadora, Cissa Guimarães é a convidada da vez no Trip FM. Carioca e apaixonada pelo teatro desde criancinha, aos 15 anos, meio escondida da família, ela começou sua trajetória nas artes cênicas fazendo aulas com a Maria Clara Machado, no teatro Tablado, no Rio.

Aos 17, desta vez meio por acaso, fez sua estreia no teatro profissional com a peça Dor de Amor, que era dirigida pelo seu então namorado, o inexorável Paulo César Peréio, com quem foi casada e teve dois filhos. Na televisão começou em 1980, na novela Coração Alado, da Rede Globo, e nos anos seguintes participou de importantes produções da emissora, como Malu Mulher, Jogo da Vida, O Clone e, mais recentemente, Salve Jorge. Além das suas atividades no núcleo da dramaturgia, ela também apresentou durante 15 anos o Vídeo Show, programa que apresenta os bastidores da Rede Globo.

Atualmente está em cartaz em São Paulo com a peça Doidas e Santas, espetáculo baseado no texto da escritora Martha Medeiros e que está em cartaz no teatro das Artes, no shopping Eldorado. Cissa que também apresenta o programa Viver com Fé, lá no canal GNT, onde conta emocionantes histórias de superação.

Playlist da semana:

Queen - Fat Bottomed Girl
Regina Spektor - The Calculation
Fleur Earth - Zeitleiden
Seu Jorge e Almaz - Rock With You
Gilberto Gil - Andar com fé

Richard Rasmussen

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Marcio Lisa/Txai Studios

Richard Rasmussen

Richard Rasmussen

Richard Rasmussen é economista, biólogo e um dos mais importantes exploradores de natureza aqui do Brasil. Paulistano criado em São Roque, cidade do interior paulista, ele herdou do avô sua paixão e interesse pela fauna e flora brasileiras. Mas antes se enveredar pelas matas e florestas do mundo atrás de povos, culturas, plantas e animais, ele se formou em Economia pela USP e trabalhou 10 anos com auditoria fiscal.

Paralelo ao trabalho como auditor, ele criou um criadouro conservacionista, aonde chegou a abrigar quase 200 animais e em 2004 iniciou sua carreira na TV, no Canal Futura. Depois do Canal Futura e de uma passagem de quatro anos pela Record, em 2009 foi contratado pelo SBT, onde apresenta o programa Aventura Selvagem. No mês passado, estreou o programa Mundo Selvagem de Richard Rasmussen, uma série de nove episódios lá no Canal NetGeo.

"Na minha época como auditor fiscal eu ganhava bem mas era odiado o tempo todo. Sabe o que é de manhã você acordar e não conseguir desgrudar da cama pra ir trabalhar? Não tinha mais como! Mas a virada aconteceu", disse o biólogo ao Trip FM.

Playlist:

Silvia Machete - Simplemente Mulher
Kevin Johansen - El Palomo
Frank Zappa - Uncle Remus
Raphael Saadiq - 100 Yard Dash
The Animals - San Franciscan Nights

Bernardo Paz

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Ele transformou sua propriedade particular no Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo, onde compartilha com todos uma invejável coleção de arte contemporânea. Diz que não entende Picasso. Que a artista Adriana Varejão, uma de suas cinco ex-mulheres, ainda o ama. E que Beatriz Milhazes, a pintora brasileira mais valorizada da história, faz, na verdade, cortinas inglesas. Pelo que parece, aos 63 anos, o empresário Bernardo Paz quer mais é ver o circo pegar fogo

Durante anos o empresário mineiro Bernardo Paz se enchia de uísque para poder dormir – 2 horas, se muito – e de manhã tinha de engolir o Engov e negociar políticas econômicas com banqueiros e operários em greve. Nos intervalos, moças notavam sua estampa de galã, seus olhos azuis, sentavam-se ao seu lado para mais um drinque e logo viravam esposas. Vinham mais filhos, mudanças de endereço, um punhado de papagaios no banco, sempre com aquela eterna sensação de angústia e os muitos maços de cigarro que carrega desde garoto. Nesse ritmo, aos 45 anos ele teve um AVC em Paris. Deitado por obrigação, com tempo para pensar na vida, Bernardo se lembrou do jardim mais exuberante que já tinha visto, num hotel de luxo em Acapulco, em 1971. Só que, enquanto lá dentro, ao som das maracas, os hóspedes se deslumbravam, do outro lado do muro altíssimo a população mexicana vivia na miséria absoluta.

Bom, já dizia o escritor Paulo Mendes Campos que é quando um homem está cansado, quando a vida o encheu, que ele vê o inesperado. Foi mais ou menos o que aconteceu. Bernardo achou que devia deixar algo de bonito para os outros. Que fosse ainda mais bacana do que o jardim de Acapulco, e sem muros, para gente de todas as classes partilhar do encantamento. Assim começou a se desenhar a alma do Inhotim – hoje o maior museu a céu aberto do mundo, que combina arte, jardim botânico e projeto social.


"A arte contemporânea é a única arte crítica, interativa, que mexe com as pessoas"


Bernardo usou o próprio dinheiro – e o charme da conversa para se entrosar com quem fosse preciso – e construiu o museu dentro da sua fazenda em Brumadinho, Minas Gerais. Inaugurado para o grande público em 2006, o seu Inhotim tornou-se, em pouquíssimo tempo, referência mundial em arte. Numa área de 97 hectares, espalham-se pavilhões espetaculares, encravados na natureza, com o fino da produção de artistas contemporâneos: Adriana Varejão (sua ex-mulher), Ernesto Neto, Tunga, Anish Kapoor, Miguel Rio Branco... uma lista de 500 obras de cem grandes figuras de 30 nacionalidades.

“A arte contemporânea é a única arte crítica, interativa, que mexe com as pessoas”, repete Bernardo, hoje com 63 anos. Um sujeito ansioso que continua fumando sem parar, ainda não dorme, é carismático, intenso e tem histórias como se todo dia na sua vida fosse um happeningNão poderia mesmo ver graça em quadros e esculturas feitos para contemplar com a mão no queixo. Inhotim é uma extensão natural da sua personalidade: exuberante, perfeccionista, feito de superlativos. As obras sacodem os sentidos, convidam a experimentar, subvertem os espaços. Matthew Barney, por exemplo, criou ali a instalação De lama lâmina, com um trator que suspende um tronco de árvore. Doug Aitken cavou uma cratera e instalou microfones lá no fundo, para a gente escutar o som do centro da Terra, no seu Sonic Pavilion. E quem quiser pode entrar na piscina do Helio Oiticica.

Uma alegria real, que se pode tocar. Era o que ele queria.

Tal qual o pato

O verde também é um exagero de beleza. Um dia Bernardo se gabava das palmeiras para um agrônomo, e ele retrucou: “Não é bem assim. Faltam centenas de espécies para essa coleção ser espetacular”. É pra já. Bernardo deu a bronca no jardineiro ali mesmo, e, não demorou, exibia uma das maiores coleções de palmeiras do planeta – mais de 1.400 espécies. Há ainda o Viveiro Educador, com 25 mil metros quadrados para pesquisas científicas. Ele gosta de dizer que não entende de arte – desfez-se da coleção de arte moderna da família, da qual ele mesmo tinha comprado boa parte – e manja mesmo é de botânica.

Quando o projeto de Inhotim ainda estava em botão, o amigo Burle Marx lhe deu conselhos preciosos para o paisagismo do lugar.

De início o público era de amigos dos amigos, a turma dos bem-pensantes das artes, mas Bernardo queria mesmo derrubar muros. Hoje Inhotim tem programas de inclusão, coral, banda e o projeto Inhotim para Todos, que leva crianças e adultos de baixa renda para visitar o museu. “Quero que essas pessoas sejam tratadas com dignidade, com a beleza que merecem. Se uma pessoa pobre tem a casa pintada, um pouco de beleza que seja, ela se sente valorizada, tem estímulo para melhorar. Isso tem de acontecer em vários sentidos”, diz.

Em janeiro de 2011 foi convidado a falar no Fórum Mundial de Davos sobre o tema Arte e Filantropia. Antes de ir, Bernardo deixou a paz de lado e botou fogo em entrevistas (“Quando chegar lá, vou olhar para a cara daqueles bundas-moles e mandá-los para a puta que os pariu. O fórum que importa está no governo de cada país, de cada estado, de cada cidade”). Não deve ter mandado, porque saiu de lá aplaudido de pé. Na gangorra da história, o nome Bernardo Paz rodou na imprensa por um leque danado de temas: o casamento com Adriana Varejão; denúncias envolvendo seu irmão, o publicitário Cristiano Paz, com o mensalão, já que Cristiano era sócio de Marcos Valério; acusações de lavagem de dinheiro para sustentar Inhotim; processo de um paisagista que não teve seu nome mencionado na criação do jardim – e pense mais um item, que talvez esteja na lista.

Está casado com a sexta mulher (Arystela Rosa, 31 anos, que mora em São Paulo enquanto ele fica no Inhotim), é pai do sétimo filho (Achiles, nome do seu pai, de quem sempre esperou reconhecimento), avô de dois netos (“Detesto neto”), vendeu sua mineradora Itaminas por US$ 1,2 bilhão e jura que bota tudo no museu e vive duro, pegando empréstimos. Mora sozinho num casarão de vidro dentro do Inhotim com 12 metros de pé-direito, peças de design e cara de galeria de arte (“Fiz essa casa para os outros, que se deslumbram, eu não preciso morar nisso aqui”), onde conversou com a Trip e se abriu como nunca antes.

Diz que não é feliz: “Tomo remédio para dormir, remédio para acordar, remédio para o coração”. Mas gosta de imaginar que, assim como a mãe, de quem herdou a sensibilidade, só está pensando nos outros. Porque, como lhe disse um funcionário muito simples, outro dia, carregando um pato morto: “O pato, como a gente, nasce, cresce e morre”.

Quais são os novos projetos para Inhotim? O Anastasia [Antonio Anastasia, governador de Minas Gerais] esteve lá no Louvre, ele quer trazer o museu pra Belo Horizonte. Só que o presidente do Louvre conhece o Inhotim e falou pra ele: “Você tem o lugar mais impressionante do planeta, por que você quer o Louvre lá?”. Aí o governador foi na Lafarge [empresa francesa, uma das maiores construtoras do mundo, com filiais em MG], falou com o presidente deles na França. E a Lafarge vai construir de graça um pavilhão para mim. São R$ 6 milhões que eles vão investir. É este aqui [Bernardo mostra a maquete de um ovo aberto e, dentro, o formato de um anfiteatro], terá 30 metros por 18 metros de altura. Tem um restaurante que vai debaixo da terra. Começa a construir no ano que vem.

Tem outros projetos já desenhados? Tem 58 pavilhões pra construir. Já projetados. Só que eu tô com a cabeça quente. É tanta coisa... Na parte botânica, tem uma green house de 50 metros de altura por 50 mil metros de área que vamos fazer. Vou botar a Floresta Amazônica dentro. Isso é o governo da Noruega que vai financiar.

Esses financiamentos, como funcionam? Doação.

Mas como eles vêm e oferecem? Ou você tem uma equipe que faz captação? Tenho um grupo de profissionais, mas o pessoal de fora chega aqui, se impressiona com o lugar e quer ter o nome vinculado ao Inhotim. Já para a captação de Lei Rouanet temos um departamento que cuida disso.

Como acontece a negociação com os estrangeiros? É fascinação, só isso. No domingo esteve aqui um francês, que tá tentando construir em São Paulo. Ele comprou aquele hospital Matarazzo na avenida Paulista. Ele quer fazer Inhotim comigo, tem dinheiro demais [Bernardo se refere aos franceses do grupo hoteleiro Allard, que compraram o hospital em São Paulo para fazer um hotel de luxo assinado por Philippe Starck]. Mas é dinheiro árabe, eu acho. Nunca perguntei a ele. Ele quer me levar em Abu Dhabi pra conhecer o emir, que é fascinado com arte.

É só você quem dá a palavra final? Não, eu dou a palavra inicial, que está muito na frente da palavra final dos outros.

Você veta alguma coisa? Não há necessidade de vetar, porque temos uma equipe de profissionais que filtra tudo. Tenho sete curadores. Já chega para mim o melhor do mundo. Nunca chega uma coisa mais ou menos, só o melhor do artista. E tudo por preço de projeto, não por preço de obra.

Você imaginava que Inhotim viraria o que é hoje? Eu nunca imaginei que ia construir Inhotim; eu comecei a fazer só. É claro que eu olho para trás hoje e vejo com tranquilidade que talvez eu tivesse imaginando. Porque dez anos atrás eu comprei o terreno para fazer um aeroporto pro Inhotim e ao mesmo tempo eu não imaginava que eu ia construir Inhotim.

E, afinal, vai ter o aeroporto? Vai. Já tem terra, já está aprovado pela Infraero, pela Anac [Agência Nacional de Aviação Civil], por todo mundo.

Um hotel e outro restaurante estão sendo construídos. Você não tinha convidado o Alex Atala para comandá-lo? O hotel vai ficar pronto logo, tá superadiantado. O Alex é um gênio, um chef maravilhoso, mas pediu R$ 8 milhões para o restaurante e só ia vir aqui de vez em quando. Falei: “Não, obrigado, não quero”. E ele andou espalhando que estraguei um sonho dele. Estraguei porra nenhuma! Achei que era dinheiro demais, só isso. Esses caras têm muito ego.

 

"O Alex Atala é um gênio. Mas cobrou R$8 milhões para fazer o restaurante no Inhotim, Falei: 'Não, obrigado, não quero'"

 

Falando em ego, você diz em entrevistas que uma pessoa só se realiza mesmo quando faz algo para a sociedade. Você sempre sentiu essa vontade de partilhar? Sempre. Fui educado assim. Minha mãe era poeta, pintora e assistente social. Era muito vinculada às pessoas mais humildes. Meu avô por parte de pai trabalhou com o marechal Rondon, foi um homem muito patriota. Essa palavra é meio ridícula, mas ele tinha orgulho do Brasil e criou meu pai dentro desses fundamentos nacionalistas. Minha mãe era muito depressiva, mas tinha um senso de humor fora do comum. Já o meu pai era engenheiro, disciplinado, um homem que me ninava com Hino da Bandeira, Hino Nacional, todos os hinos que você imaginar.

Ele cobrava muito você? Era muito duro, muito difícil. Meu relacionamento era melhor com a minha mãe, que era de uma sensibilidade atroz. Esse antagonismo me deixou completamente inseguro, até os... ah, minha vida inteira. Somos quatro irmãos, eu sou o mais velho. Isso me deixou mais ou menos sem pouso, porque meu pai pregava o heroísmo, a luta, a vontade, o crescimento. Meu avô, pai dele, era do Piauí, mas fugiu de lá quando houve a revolução. Na época de Arthur Bernardes [mineiro, presidente do Brasil de 1922 a 1926], meu avô era comunista. Foi parar no Rio vestido de mulher e prenderam ele.

Vocês tinham dinheiro? Éramos classe média baixa, classe média de funcionário público. Meu pai trabalhava na prefeitura, foi secretário de governo. Na época, Belo Horizonte só tinha funcionário público.

Você estudou até que ano? Eu detestava estudar. Fui muito bem até o quarto ano do primário. Tinha um irmão que era muito brilhante, estudava 12 horas por dia. Então meu pai começou a me perseguir. Mas tinha uma diferença: meu irmão era moreno, mais magro, e eu era bonito, de olho azul. Meu pai me dizia: “Você não vai dar em nada na vida”. Eu tinha 13, 14 anos. Isso me marcou muito, passei infância e juventude muito isolado, calado. Terminei o ginásio e parei. Tempos depois fui fazer o madureza [antigo supletivo] e entrei em economia na faculdade. Mas larguei.

Você era um adolescente angustiado? Extremamente. Era muito bonito e isso me atrapalhou demais. Eu detestava isso, tinha pânico de ser bonito, e muitas pessoas diziam que a beleza trazia burrice.

Mas não era bom para ganhar as meninas? Eu tinha muita vergonha. Até os 20 anos eu não conversava com mulher. Às vezes ia a uma festa e ficava só 5 minutos, porque as meninas iam todas em cima de mim e eu não sabia dançar.

Com que idade você se casou pela primeira vez? Com 23. Tinha esse problema também. Como eu nunca procurei por uma mulher, eu normalmente era achado por uma. Nunca casei com mulher bonita na vida, porque as que chegavam eram as mais feias, as bonitas ficavam esperando. Eu casei com uma menina que se aproximou muito na época e fiquei 11 anos com ela, a Sandra. Tivemos duas filhas. Antes de casar eu já trabalhava como atendente no posto de gasolina do meu pai. Depois fui trabalhar numa butique de roupa de homem. Muito tempo depois soube que o footing na cidade era na porta da butique, porque as meninas iam me espiar. 

E você, pelo jeito, já tinha deixado de ser introspectivo. Só no trabalho. Eu tinha que me articular, porque senão não ia dar em nada na vida. Depois fui operar na bolsa de valores. Em 1971 teve um crash na bolsa no Brasil e todo mundo perdeu tudo. Aquilo me traumatizou, porque eu vi as pessoas que tinham dinheiro guardado para a velhice perderem tudo. É uma coisa que eu nunca mais esqueci. Tenho pânico dessa coisa de trabalhar com dinheiro para fazer dinheiro. Eu parti mais para a realização pessoal.

Mas como é que você virou dono de mineradora, milionário, e chegou onde está hoje? Eu tinha um percentual na mineradora. Quando comprei, era quebrada.

Mas de onde veio essa mineradora? Quando me casei, acabei indo trabalhar no banco que era do pai da minha primeira mulher [o Banco Mineiro do Oeste, de João do Nascimento Pires, primeiro sogro de Bernardo]. Ele quebrou e perdeu tudo o que tinha. Eu já tinha saído para cuidar da mineração, que tinha sido dele, mas estava quebrada. Ele tinha perdido a cabeça. A história dele foi dramática, porque ele era um homem extraordinário que nos últimos anos da vida estava na macumba, cortava pescoço de carneiro para tomar sangue. Eu tinha que correr atrás para ele não ser roubado. Pus ele na mineração na época e foi uma tragédia, porque, na hora de pagar os transportadores e pessoal, ele pegava o dinheiro para pagar esses videntes. Então eu passei dez anos segurando greves, acordava às quatro da manhã, chegava em casa à meia-noite. Mas aí esse homem morreu, foi uma complicação.


"Não entendo de arte. Vou dizer uma coisa com toda a franqueza: eu não entendo do Picasso. Porque arte para mim tem um processo educativo"


Isso foi durante os anos 70, quando teve o milagre econômico? Para mim não teve. Eu vivia com duplicatas, dívidas, tinha mais de 2 mil cheques sem fundo. Eu não dormia. Às vezes pra dormir tinha que tomar uma garrafa de uísque, porque não tomava tranquilizante na época. Hoje tomo. Dormia 2 horas e acordava com dor de cabeça, mas ia trabalhar. Minha vida passou como uma ventania. Descobri uma fórmula de resolver esse problema, que era comprar outras empresas falidas, recuperá-las e fazer um monte maior pra sair lá na frente. Chegou um ponto em que a jazida não pertencia à mineração, era arrendada. Aí tive de fazer uma empresa às pressas, para fazer o arrendamento, continuar trabalhando, conseguir pagar toda a dívida e liberar todo o patrimônio. Foi o maior sufoco da minha vida. Minha mulher e eu nos separamos. Fiquei sem nada, criei uma holding e a partir daí eu vi que não tinha saída: a dívida era grande demais. Fui para a China e fiquei amigo de uns ministros chineses. Tive a primeira reunião com o Deng Xiaoping [secretário-geral do Partido Comunista Chinês]!

Você foi o primeiro empresário brasileiro a ir para a China comunista? Ninguém nunca tinha ido à China. Quando eu fui, só os judeus estavam lá. O Deng Xiaoping foi o motor dessa história toda, mas por trás tinha um grupo de pessoas brilhantes. Eles botaram US$ 10 milhões na siderurgia. Comprei outras minas também e virei uma empresa de 10 mil funcionários. Uma correria... Tinha que viajar 300 quilômetros por dia, indo e vindo, correndo atrás. Eu estava bêbado quando comprei a primeira usina siderúrgica. Fiz um discurso que ninguém entendeu. Lembrei de quando era criança e dormia num quarto com três irmãos, que dava pra um terreno baldio ao lado. Todo dia uma galinha cantava. Eu subia no muro e descobri que ela estava botando ovo. Aí comecei a pegar o ovo e guardar. Aquilo pra mim era uma coisa impressionante! Eu estava ganhando aqueles ovos que a galinha botava de lado. E naquilo acumulei 12, 13 ovos.

Mas foi nessa época que sua história de empresário melhorou. Não, o Brasil ficou uma loucura. Teve Plano Cruzado, Plano Collor, Plano Real, e depois o Meirelles [Henrique Meirelles, presidente do Banco Central entre 2003 e 2011], que acabou com as indústrias botando o câmbio lá embaixo.

E você estava onde nessa altura? Na mineração. O que aconteceu? O minério subiu de US$ 10 para US$ 180. Então, mesmo com o câmbio caindo 100%, o minério subiu 1.800%. Com isso consegui pagar a dívida de bancos, adequar a dívida fiscal, parcelar com o fisco. E consegui triplicar, quadruplicar a produção de minério.

Quer dizer, aí foi surgindo esse dinheirão. E você ainda vendeu uma mina para os alemães. Surgiu o dinheiro e construí Inhotim. A mina eu doei, é uma história longa. Mas acabou dando dinheiro e os alemães retribuíram botando dinheiro no Inhotim. Depois larguei tudo, porque tive um problema de saúde em Paris, em 95, que me fez pensar em fazer algo maior, para a comunidade.

Você teve um AVC, né? Sim, mas não deixou sequelas.

Você estava sozinho? Estava para casar com minha quarta mulher, a Titina. Era uma menina de família rica, conservadora, de Minas Gerais. Era muito mais nova que eu: eu tinha 44 e ela tinha 26 quando casamos. Ficamos 11 anos juntos. Não tivemos filhos, ela não podia. Antes eu tinha sido casado com a Cláudia, que me deu duas filhas maravilhosas.

Não tem uma história que você se separou e, no mesmo dia, foi a um bar e conheceu uma moça? Sim, uma austríaca de 22 anos, minha segunda mulher. Também foi uma que me viu bebendo no bar, se aproximou e eu casei. Tivemos um filho, o Bernardo, que hoje vive em Stanford.

Você gosta das moças mais novas? A questão não é essa. É que... sou um cara de poucos prazeres na vida. E um dos poucos prazeres era sexo. Era difícil fazer sexo com uma mulher mais velha. Ou casar com uma mulher de 50 anos, quando eu tinha essa idade, e ainda ter apetite sexual [risos].

A beleza então é importante para tudo? Hoje eu consigo encarar a beleza da inteligência, da sabedoria. Aí tanto faz a idade. Consigo me apaixonar por uma pessoa sem me preocupar com o sexo, desde que ela seja brilhante.

Mas você não me respondeu uma coisa: você se interessava por arte? Já pensei muito isso, mas nunca quis entender de arte. Não entendo de arte. Vou dizer uma coisa com toda a franqueza: eu não entendo Picasso. Porque arte para mim tem um processo educativo, elucidativo. Anterior a Picasso, a arte era anterior à fotografia. Então a arte traduzia a visibilidade de uma determinada coisa que você não conhecia, ela tinha esse papel.

A arte era figurativa. Já na arte moderna... Quando veio a fotografia, os artistas passaram a fugir da fotografia, do realismo. Alguns artistas conseguiam isso com beleza, como Monet, Matisse e outros mais. Picasso pintou o ciclo azul de forma clássica, de uma beleza extraordinária, afinal era um gênio. Depois passou a distorcer tudo e deixou de ser uma pessoa admirável. Os quadros deixaram de ser admirados para ser invejados por ricos e colecionadores. 

Falando nisso, a arte brasileira está cada vez mais valorizada. Uma obra da Adriana Varejão, sua ex-mulher, já passa de R$ 1 milhão. A obra da Adriana, por coincidência, ou por qualquer outra coisa, teve um salto de valor após o pavilhão dela aqui, que é o mais bonito de Inhotim. Comprei todas as obras para o pavilhão por US$ 180 mil – e lá tem 70 obras. Hoje custa US$ 1 milhão cada uma. Mas isso não acontece de uma hora pra outra. Ela tem um valor enorme como pesquisadora, vai fundo em suas pesquisas. E, de uns tempos para cá, os ricos brasileiros começaram a reconhecer nossos artistas e a comprar por uns preços absurdos.


"Preciso de R$2 milhões todo mês. Pego dinheiro emprestado sempre. Estou devendo R$12 milhões, mas mês que vem eu pago"


A Beatriz Milhazes passa fácil de R$ 1 milhão. Isso é loucura! A Milhazes tenta ser pintora, mas o que ela faz é cortina inglesa.

Qual é o seu parâmetro de boa arte? O meu parâmetro é a educação. Arte contemporânea é a única arte crítica, interativa, que mexe com as pessoas. As crianças adoram, mais do que os pais. A arte aqui em Inhotim está envolta na beleza da natureza. Esse é o segredo. Toca as pessoas. A Adriana tem por trás uma curiosidade, o Ernesto Neto tem uma diversão e uma alegria que se traduzem para a criança, o Cildo Meireles tem a perspectiva da morte.

A Adriana foi sua única esposa famosa. Incomodava você ser conhecido como “o marido da Adriana Varejão”? Nunca me preocupei com a fama da Adriana. Me importava com o que ela fazia, com o trabalho dela, enxertado de vontade e víscera. Me apaixonei por ela, casamos, tivemos a Catarina, linda, e continuei levando a minha vida. Depois surgiu um problema: a Adriana, como todo artista de uma forma geral, tem a característica de olhar muito pro seu próprio interior. Isso é um vício de quem constrói pra si mesmo, não quer dizer que seja um erro. Ela não reconhecia suas ambições de ganhar dinheiro com arte. Queria ser uma pessoa da arte pela arte. Mas, por outro lado, precisava do dinheiro. Não para viver, mas para ser importante – o mundo capitalista exige isso. E ela era artista, devia brilhar, mas eu estava crescendo como pessoa e isso foi criando um abismo entre nós. Ela queria envelhecer comigo. Acho que ainda me ama, mas isso [reatar] é impossível. Separamos e acabou.

Você tem inimigos? Não que eu saiba. Meus inimigos não têm nome, mas tentam me prejudicar. São pessoas que têm ciúmes. A vida inteira eu tentei solucionar problemas e buscar caminhos pras pessoas. No primeiro momento eu consigo muita coisa, porque tenho uma facilidade imensa de ligar pontos, entendo a pessoa sem ela perceber. Em um primeiro momento, ela me julga um gênio. Em um segundo momento, ela tem medo. No terceiro momento, ela tem raiva. E, no quarto, parte para a vingança. 

Não posso deixar de perguntar sobre todas as acusações de lavagem de dinheiro envolvendo o nome do seu irmão (Cristiano Paz) com Marcos Valério e ligando você a políticos. O que você tem a dizer? Eu digo que meu irmão é inocente. Ele é brilhante, tem uma agência de publicidade que talvez seja a melhor do Brasil. Nunca procurou dinheiro; nasceu artista. Quando começou em publicidade, aos 16 anos, fez um filme e todos em casa choraram de emoção. Eu tenho pena dele. Ajudo no que posso. Porque ele foi envolvido nesse processo pelo Marcos Valério, mas o banco deu dinheiro observando algum favor – e depois quebrou. Todos perderam e meu irmão foi o único que se manteve de pé nessa história. Quanto a mim, nunca fui amigo de político nenhum.

Seus outros dois irmãos trabalham com o quê? Virgínia, coitada, é inteligentíssima, mas é uma sonhadora também. Ela montou um escritório pra filha dela, que é uma arquiteta genial, mas não ganha dinheiro. Tenho sempre que dar dinheiro pra ela. O André é brilhante também, mexe com comércio. Mas é doido: xinga, briga, berra. Uma coisa tem de ficar clara: eu nunca fui rico, não sou rico, não tenho um tostão no banco. Todo o meu dinheiro está envolvido com a população de uma forma geral.

Mas você tem uma vida bem confortável... Preciso de R$ 2 milhões todo mês. Pego dinheiro emprestado sempre. Estou devendo R$ 12 milhões, mas mês que vem eu pago, vendi um troço por R$ 250 milhões. Tudo que ganho boto no Inhotim [na imprensa já saiu que ele bota US$ 70 milhões por ano; há dois anos, Bernardo vendeu sua Itaminas para um grupo chinês por US$ 1,2 bilhão].

E agora você está com a sexta esposa, a Arystela, que lhe deu o sétimo filho. Ela é designer, veio criar a iluminação de uns restaurantes meus. Essa moça sofreu absurdamente. O marido teve esquizofrenia, quis matá-la e acabou morrendo assassinado. É uma menina que veio do interior, na dela, extremamente correta, e lindíssima. Temos o Achiles, um menino lindo. Dei a ele o nome do meu pai. Tenho o maior respeito pelo que meu pai foi, apesar de ele ter me crucificado a vida inteira.


"Eu vou criar aqui uma Disney World pós-contemporânea cultural, que faça com que as pessoas cresçam"


Ele faleceu há pouco tempo. Faleceu há dois anos, dizendo que tinha orgulho de mim.

Que é o que você sempre desejou. Exato. Me deu um prazer muito grande saber disso. Quando ele morreu, eu não tinha que provar nada mais pra ninguém. A vida inteira o meu foco é a sociedade.

Quando você morrer, o que deve acontecer com Inhotim? Sou pragmático. Estou pensando lá na frente e penso grande. Eu vou criar aqui – se Deus quiser, e não que eu acredite em Deus – uma Disney World pós-contemporânea cultural, que faça com que as pessoas cresçam e que atenda a sociedade de uma forma geral – miseráveis, pobres, médios e ricos. E que todos sejam considerados iguais aqui dentro, como são atualmente. Hoje eu recebo cerca de 100 mil pessoas de comunidades extremamente carentes, recebo 80 mil crianças por ano, extremamente pobres. Tenho 140 professores, monitores, educadores, tem as comunidades quilombolas que eu trouxe pra trabalhar aqui... Nós atendemos essas comunidades.

Muitos ricos não investem em nada para a comunidade. O que você acha da elite brasileira? A elite brasileira não difere de nenhuma elite. A pior elite é a aristocracia europeia, porque não admite até hoje que perdeu poder. As elites são feitas por pessoas que lutaram para crescer, que têm medo de perder. Todo rico é assim. Toda pessoa que cresce não quer dar um passo para trás. O que eu estou fazendo é uma renúncia absoluta da vida.

Mas seu nome estará ligado a um legado. Meu nome está ligado a isso, mas está sendo alvo de muitos [mísseis] Exocet. Nunca fui amigo de político, nunca me liguei nisso. Condeno a corrupção, que prejudica o pobre, que atrapalha a saúde, que vende remédio mais caro, que manipula o dinheiro. Agora, eu, por mim, não estou nem aí pra minha vida. Se eu morrer amanhã, já morri. Agora estou com uma arritmia cardíaca, tenho de ir ao [hospital] Einstein na segunda. Acho uma chatice, detesto sair daqui.

Você teve um AVC, fuma à beça e diz que toma tranquilizantes toda noite. Mas tem sete filhos. Não tem a preocupação de viver mais? Não. Nunca fiz esporte. Faço tudo o que você disse, e os sete filhos gostam de mim. Tenho 1.400 funcionários. Se você sair e falar mal de mim, eles te matam. As pessoas que estão próximas a mim estão muito, muito próximas.

O que emociona você? Meus filhos me emocionam. E as pessoas que estão comigo no Inhotim também. Encontrei um negro quilombola revoltado com sua condição e querendo matar os brancos. Esse negro hoje é o melhor condutor de visitantes que temos. Todos os negros que tenho aqui são quilombolas. E são pessoas extraordinárias.

Luiz Hanns

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Divulgação

Luiz Hanns

Luiz Hanns

Luiz Hanns é psicólogo, psicanalista e um dos maiores estudiosos e conhecedores da obra de Sigmund Freud aqui do Brasil, sendo o responsável pela tradução de diversos livros do psicanalista austríaco para o português. Formado em Psicologia pela USP e com mestrado e doutorado pela PUC, atualmente ele tem se especializado em educação infantil, felicidade e relacionamento e acaba de lançar o livro A Equação do Casamento - O que pode (ou não) ser mudado na sua relação, obra que pretende ajustar as expectativas e o convívio dos casais para um relacionamento mais saudável e duradouro. 

Hanns é um dos convidados da Casa Tpm deste ano e vai estar com a gente este fim de semana no evento promovido pela revista Tpm.

Playlist da semana:

Dire Straits - Southbound Again
Ben Howard - The Wolves
Angus and Julia Stone - Paper Aeroplane
Julie Delpy - Mr. Unhappy
Jorge Ben Jor - Quero Esquecer Você

Um rolê com Sasha Grey

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Sasha espera a van que a levaria até uma emissora de TV do lado de fora do hotel onde está hospedada, na região da avenida Paulista. Ela é uma garota de 25 anos despachada, daquelas que sorriem sempre que cumprimenta as pessoas ou quando fala sobre os livros prediletos. Pisa na calçada com o tênis preto, estilo botinha, e está prestes a atravessar uma das alamedas mais movimentadas dos Jardins, bairro nobre de São Paulo, acompanhada apenas por Jessica, uma das suas melhores amigas.

Vendo-a parada ali, bem vestida com calças escuras, regata soltinha no corpo, blazer preto, bolsa a tiracolo, é difícil imaginar que estamos diante de um dos maiores mitos do cinema pornô, de uma mulher que esteve em quase 300 produções, já transou com seis caras ao mesmo tempo para um filme, e levou o sexo oral a profundidades inimagináveis. E também é uma das figuras mais interessantes da cultura pop: virou queridinha do diretor cult Steven Sodenbergh, com quem filmou Confissões de uma garota de programa (2009); participou de clipe do rapper Eminem; e foi parte da banda de rock industrial aTelecine.

É na van que a leva do centro expandido à Zona Sul onde conversamos com ela, que veio a São Paulo para divulgar Juliette society, seu primeiro romance erótico. Na entrevista abaixo, ela fala sobre ser uma das poucas atrizes do pornô americano a fazer sexo inter-racial, comenta a polêmica (não) depilação de Nanda Costa e revela a obsessão por comprar discos e DVDs. 

Mas se você é como o motorista que a acompanhou pela cidade, que era só elogios à simpatia da moça, mas até agora não tinha ideia de quem é Sasha Grey, aí vai um breve resumo. Nascida na Califórnia, ela entrou na indústria pornô assim que completou 18 anos. Não só porque era um jeito rápido de ganhar um bom dinheiro, mas porque queria explorar a própria sexualidade (apesar de ter sido uma das últimas da turma a perder a virgindade, aos 16). Nos filmes em que atuou, protagonizou cenas pesadas – na primeira delas, pediu ao cara com quem estava transando que lhe desse um soco no estômago – que logo conquistariam legiões de fãs por suas performances e lhe renderiam os principais prêmios do gênero.

Aos 21, Sasha decidiu se aposentar do mundo da pornografia. Desde então, filmou com o diretor cult Steven Sodenbergh, continuou tocando com a banda de rock industrial aTelecine, publicou dois livros (além de Juliette, lançou NEU SEX em 2011, que compila suas fotografias nos bastidores do pornô) e leu para crianças. Ah, também é fã de Nietzsche, Sartre e dos Bad Brains (banda americana de hard core); é ativista gay, defende o empoderamento feminino e o acesso universal à leitura, não frequenta festas “a não ser quando precisa discotecar”, pratica pilates, acaba de vender os direitos de seu romance para o cinema. E ainda consegue dar risadas nesta entrevista, em meio a uma agenda insana de divulgação do livro.

Trip. Sasha, você está em todos os lugares! Todos os repórteres querem falar com você, a noite de autógrafos ontem foi uma loucura, vi você em programas de TV, você discotecou aqui... Imaginava que a passagem pelo Brasil fosse quase como a vinda da Madonna?
É arrebatador e surpreendente. Não tinha ideia do que esperar, especialmente da noite de autógrafos.

O que a palavra “prazer” significa para Sasha Grey?
Bem, o prazer não precisa ter necessariamente a ver com a sexualidade, eu acho. Ele precisa preencher todos os sentidos, então podemos nos sentir estimulados física e mentalmente e isso não necessariamente quer dizer que estamos excitados. Mas também não quer dizer que precisamos estimular todos os sentidos para ficar com tesão.

Você se vê como uma figura que explora o prazer em todos os sentidos?
Sim, mas não em todos os sentidos, sabe, não sou uma chef de cozinha... Mas talvez eu faça isso, quem sabe?

Você poderia tentar escrever um livro de culinária, todo mundo faz isso hoje em dia [risos]. Sasha, as pessoas costumam comparar seu Juliette society com o best-seller 50 tons de cinza por serem livros eróticos escritos por mulheres. O que você pensa dessas comparações? Acho que há uma diferença específica entre os dois textos: em 50 tons, a personagem praticamente serve o que o cara quer. Já no seu livro, a Catherine é protagonista do próprio prazer.
É bem verdade. Minha personagem é bem mais forte e independente do que a de 50 tons de cinza. Claro, muitas mulheres gostam de agradar o parceiro e sentem prazer nisso. E a Catherine até pode querer ser sexualmente submissa, mas ela quer mais é controlar a situação para chegar até onde ela quer. Essa é a grande diferença.

Sei que você é uma leitora voraz [ela abre um sorrisão]. O que você leu enquanto escrevia Juliette society?
Ah, bastante coisa. Mas as principais influências são The sadeian woman, de Angela Carter, 120 dias de Sodoma, de Sade, e tudo o que ele escreveu.

Como você gostaria que seu livro fosse lido?
Apesar de ser um romance erótico, ele também é divertido. O gênero erótico também representa a visão de um autor sobre seu tempo, então espero que isso aconteça com Juliette society. Que as pessoas riam e não levem tudo tão a sério. Até mesmo os comediantes vivem tempos difíceis porque hoje em dia tudo é tabu.

Por falar em tabu, alguém já te falou da Nanda Costa?
Não, quem é?

É uma atriz brasileira que saiu na última edição da Playboy e causou polêmica porque não se depilou totalmente.
Oh!

Algumas pessoas acham que ela deveria ter tirado tudo porque é mais bonito e higiênico, outras acham que está bonito assim. Como o assunto depilação te afeta?
Gosto ao natural. Faz com que eu me sentir mais fêmea, mais mulher. Claro que tem gente que sempre vai achar que é nojento e nada sexy, mas sempre haverá pessoas como eu, que acham que é sexy, sim.

Você está aposentada há quatro anos do cinema pornô. O que vê quando olha para trás?
É estranho, porque agora estou fora do pornô por mais tempo do que realmente estive nele [dos 18 aos 21]. Quando olho para trás e vejo o que conquistei, às vezes fico chateada, como quando penso na produtora que tentei criar e não deu certo. Isso me frustra às vezes. Mas se não fosse por tudo o que vivi, talvez não estivesse aqui hoje.

Você sofre preconceito por ser uma ex-atriz pornô, como quando os pais de uma escola infantil nos Estados Unidos a impediram de continuar lendo para as crianças. Mas, dentro da própria indústria, presenciou cenas de preconceito?
Pensava quer o pornô seria um tipo de ambiente em que todo mundo tivesse a cabeça aberta e respeitasse as preferências das outras pessoas. Na verdade, conheci muitas pessoas realmente homofóbicas e sempre achei isso tão bizarro. Ou pessoas que agiam da mesma forma quanto ao sexo inter-racial. É engraçado, porque elas já estavam fazendo sexo, que é uma das coisas mais íntimas que uma pessoa pode fazer, diante de uma câmera. E tinham medo de fazê-lo com uma pessoa de outro sexo ou com outro tom de pele? Ou julga alguém só porque gosta de pessoas do mesmo sexo? Isso sempre me chocou.

Os filmes inter-raciais – ainda considerados um gênero à parte – nunca foram problema para você?
No começo da minha carreira, umas garotas me disseram “ah, você ganha um extra por fazer inter-racial” [imita a voz de uma menininha esganiçada]. E eu pensava: “O quê? O que vocês estão pensando? Vocês estão malucas?”. Tá, podia ser até um jeito de fazer mais dinheiro, mas sempre me pareceu errado. Já conheci atrizes que não topavam fazer cenas solo de masturbação com um pênis de borracha negro porque consideravam sexo inter-racial.

Que absurdo. E você nunca mesmo ganhou um extra por cenas assim?
Não, nunca. Nem passou pela minha cabeça.

É triste, mas ainda assim sua atitude é revolucionária.
Na verdade, nunca pensei sobre isso porque simplesmente nunca foi uma questão para mim. Cresci em uma vizinhança cheia de diversidade em que não importava a cor da pele.

E o que vale uma boa briga para Sasha Grey? Você também é ativista pelos direitos das mulheres, pelos direitos gays...
Ler, obviamente, é um direito universal e todos deveriam ter acesso a isso. Eu gostaria de passar o resto da minha vida encorajando crianças ou comunidades inteiras a ler. Outra coisa: por causa do meu passado – e porque as pessoas costumam associar o pornô à violência e à misoginia – tenho pensado cada vez mais em mudar essa perspectiva, de alguma forma. Bem, se o pornô pode ser mesmo considerado violento, por que não ajudar mulheres que sofrem violência sexual? Quando eu era mais nova e ouvia histórias de abuso, principalmente em relacionamentos, costumava pensar: “OK, a mulher é livre pra fazer o que quiser, então porque simplesmente não abandonou o cara?”. Agora, mais velha e com mais consciência, percebo como essas situações são delicadas, pensar em uma garota sofrer abuso parte meu coração e me faz refletir sobre o que posso fazer para ajudar. E não acho que precisa de muito, hoje em dia a internet é muito poderosa para conscientizar as pessoas. Tem um site chamado Change.org [plataforma internacional de abaixo-assinados], que apoia questões de direitos humanos no mundo todo. Eles realmente fazem a diferença em vez de atrair atenção da mídia para conseguir mais publicidade.

É uma coisa bonita de se ouvir.
Especialmente por causa da internet, os escândalos sexuais têm vitimado garotas exploradas por pessoas em quem elas pensavam que podiam confiar só porque estava do outro lado do mouse. Com a rede, as pessoas têm desenvolvido um complexo de que podem se livrar de tudo só porque estão na internet. Por isso também temos que ensinar as mulheres a se sentirem seguras com a própria sexualidade e ensinar os jovens que o mundo não é bonito, não são só flores e arco-íris, para que tenham um suporte firme e saibam lidar com essas situações.

Falando de assuntos mais leves, você é uma fã de punk e hard core. Quais são suas bandas favoritas e o que tem escutado ultimamente?
Uau, tenho muitas bandas favoritas. The Clash, claro. Bauhaus, Joy Division, Bad Brains. Estou bem surpresa com o novo álbum do David Bowie. E, ah, tem outra banda que se chama The Skins, eles são super punk rock, com um som rápido, e têm uma vocal feminina que é insana.

Você também é viciada em comprar discos, certo? Quais foram suas últimas aquisições?
Ah, foi mais ou menos uma semana antes de embarcar para cá, mas não sei... Nem ao menos sei quantos discos comprei. Às vezes entro em uma loja de discos e, momentos depois, olho para a sacola nas minhas mãos e penso “Caralho, como isso foi acontecer?”. Realmente não consigo me lembrar de tudo o que comprei [risos]!

Essa compulsão é só por discos?
Acho que meus grandes vícios são discos, DVDs e Blu-Rays.

Você conseguiu comprar alguma coisa aqui no Brasil?
Não, mas eu adoraria saber onde posso ir.

Depois te dou algumas dicas, se você quiser. Vem cá, você está namorando ou saindo com alguém, algo do tipo?
Sim… Tem alguém por quem realmente estou apaixonada.

Ele é americano, de onde ele é?
É…

Melhor não falar sobre isso?
Melhor não. 


Marcelo Freixo

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Trip Transformadores

Marcelo Freixo

Marcelo Freixo

Ele nunca foi preso, mas já passou um bom tempo dentro da cadeia.

Deputado estadual do Rio de Janeiro pelo PSOL, sua trajetória inspirou a criação de um dos personagens centrais da franquia Tropa de Elite, um dos filmes mais importantes e mais assistidos do cinema nacional, e sua rotina é marcada por combates mais cascas-grossa do que qualquer luta de MMA.

Natural de Niterói e formado em História, ele já coordenou inúmeros projetos educativos junto ao sistema penitenciário e é figura de destaque na defesa dos direitos humanos e na luta contra a corrupção aqui no Brasil.

Como deputado, entre seus feitos mais importantes estão a instauração das CPIs do Tráfico de Armas e das Milícias, que revelou ao país a existência e o perigo que representa esta organização mafiosa.

"O que aconteceu no Brasil em 68, na luta pelas Diretas já, o Fora Collor, são movimentos incríveis , mas nada disso a entender o que está acontecendo hoje. É diferente. Esse movimento de rede, de rua, esse movimento de massa em tempo de internet tem uma outra lógica de comunicação"

O papo deste Trip FM é com o pai do João e da Isa, o marido da dona Renata, o Marcelo Ribeiro Freixo, mais conhecido como Marcelo Freixo, que além disso tudo que a gente citou aqui, também é um dos homenageados do Trip Transformadores deste ano.

PLAYLIST DO PROGRAMA:

Mayer Hawthorne -- Let me Know

Arcade Fire -- Wasted Hours

Erasmo Carlos -- Mar Vermelho

Baden Baden -- Evidement

Rolling Stones -- Street Fighting Man



Anote na agenda:

O Trip FM vai ao ar na sexta-feira, na Grande São Paulo, às 20h, reprise toda terça-feira, 23h, pela Rádio Eldorado Brasil 3000, 107,3MHz.

Não é de São Paulo? Veja aqui as cidades e as rádios onde o programa é transmitido.

Reprise: Fábio Porchat

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Trip FM

Fabio Porchat

Fabio Porchat

Fábio Porchat é, seguramente, um dos maiores fenômenos do humor nacional da atualidade. Carioca criado em São Paulo, foi seu talento, sua cara de pau e uma “invasão” ao Programa do Jô que lhe renderam um convite para trabalhar como roteirista da Rede Globo.

 

"Já fiz stand up para ninguém"

 

Passou pelo Zorra Total, Junto e Misturado, Esquenta e, atualmente, integra o elenco fixo do seriado A Grande Família. Mas, por mais improvável que possa parecer, foi a internet que o elevou à condição de astro. Junto com um grupo de amigos, entre eles Antonio Tabet, capa da revista Trip de maio, ele é um dos fundadores do Porta dos Fundos, produtora de vídeos que tem consolidado a tese de que a televisão do futuro é mesmo a internet.

Além do trabalho com o Porta dos Fundos e com o seriado A Grande Família, ainda encontra tempo para participar de produções para o cinema, como o filme Vai que Dá Certo, e também para escrever uma coluna semanal no jornal O Estado de S. Paulo.

Playlist: 

She & Him - Sunday Girl
James Brown - Out of Sight
Me & the Plant - Cordillera Grill
Strech - Why Did You do It
Doors - Love her Madly

Sidarta Ribeiro

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Trip Transformadores

 

Sidarta Ribeiro é um dos mais importantes e laureados cientistas brasileiros e sua área de pesquisa se concentra em uma das máquinas mais fantásticas já concebidas: o cérebro animal.

Natural de Brasília, ele se formou em Ciências Biológicas pela UNB e aprofundou seu conhecimento com mestrado na UFRJ, doutorado na Rockefeller University e pós-doutorado na Duke University. Em 2005, contrariando as expectativas, deixou suas modernas e luxuosas instalações em uma universidade norte-americana e, junto com outros cientistas brasileiros, fundou o Instituto Internacional de Neurociência de Natal. Foi homenageado na primeira edição do prêmio Trip Transformadores, em 2007.

Atualmente é professor titular e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e no seu campo de estudos estão temas como comunicação entre animais não humanos e a ligação entre o sono, os sonhos, a memória e o aprendizado.

Playlist da semana:

Chet Faler - No Diggity
Céu - Cordão da Insônia
Talking Heads - This Must be the Place
Asaf Avidan & the Mojos - The Reckoning
The Mamas and teh Papas - Dream a Little Dream of Me

O não complexo do alemão

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Caçar ondas gigantes e enfrentar o mar em todas as suas formas não é sonho, e sim cotidiano para Edílson Assunção, o Alemão de Maresias. Mas por que um dos mais habilidosos watermen do planeta não recebe o reconhecimento à altura de seus feitos e dos depoimentos entusiasmados de gente como Carlos Burle, Pedro Scooby e Taiu?

Suas pupilas estão dilatadas. Ele acaba de sair do mar e seus olhos continuam mirando as ondas que quebram com força, na casa dos 2,5 metros, em Maresias, litoral norte de São Paulo. “Fui numa que o tubo rodou e deu uma baforada: pshhh! Saí com os lábios e as orelhas doendo, queimando”, conta, sobre uma das ondas que pegou na sessão de tow-in.

Assim começa a segunda-feira de Edílson Assunção, 44 anos, vulgo Alemão de Maresias. Costuma acordar bem cedo, perto das 7 horas, e divide seu tempo entre o mar, sua casa e sua “base”, uma pequena marina onde deixa o jet ski, algumas pranchas e seu bote. Não tem carro – no dia a dia usa uma bicicleta – e, se o dia tem onda, fica na água praticamente o tempo inteiro. Em sua última expedição, por exemplo, para Punta Docas, no Chile, onde puxou Carlos Burle e Rodrigo Koxa em ondas que podem ser as maiores já surfadas na história (o veredicto da XXL, o óscar das ondas gigantes, sai só no ano que vem), Alemão passou de 6 a 7 horas por dia na água congelante. “Ele é um homem do mar”, define Burle. “É um cara preparado como poucos no mundo: rema, surfa, conhece vários equipamentos eé determinado.”

A “base” de Alemão fica em frente à pracinha de Maresias, a poucos passos da praia. Já sua casa fica a cerca de 1,5 quilômetro do mar, no pé da serra, com dois andares e uma edícula nos fundos, onde funciona uma espécie de escritório com pranchas de todos os tipos (SUPs, bolachinhas, Guns afiadas, modelos para tow-in) e também wetsuits, coletes e remos. Numa das paredes está pendurado um pequeno quadro bem antigo com uma foto do surfista Brock Little dropando Waimea; ao lado, Pepê Lopes entuba numa foto clássica; acima, está uma foto de Alemão com seus 20 e poucos anos num tubo.

Cruzando o gramado entre a edícula e a casa, está uma área com mesa, churrasqueira e um forno de pizza. A casa é ampla e confortável – Alemão e Renata, sua mulher, estão aqui há dois anos e agora contam com uma nova pessoa para dividir a área: o recém-nascido Samuel, segundo filho do relacionamento de sete anos dos dois. Alemão também é pai de Clara, 10 anos, fruto de outra relação.

Na sala, entre a TV e uma prateleira de troféus, está um remo polinésio e um quadro que ele ganhou em um campeonato de tow-in, em 2008 no Chile. A extrema habilidade na canoa havaiana, nas provas de remada, no big surf e no tow-in fazem de Alemão um legítimo waterman brasileiro – talvez, o maior deles, apesar de não gozar da mesma fama que seus amigos.

“Nunca ganhei dinheiro com o surf”, afirma. “O esporte me ajudou a chegar nos lugares que eu quis, é isso. Nunca tive carro nem ambições. Nunca imaginei que eu fosse ter uma casa como essa, por exemplo.” A casa em questão foi presente dos pais de sua mulher. Até então, Alemão viveu por cinco anos em um local bem mais simples, do outro lado da praia.

Depois de estar em uma das maiores sessões de surf já registradas na América do Sul e no mundo, ele não acha que tenha chegado ao seu ápice. Tampouco corre atrás de recordes e prêmios: “É lógico que a gente sonha, mas prêmios para tamanhos de ondas são superficiais, não são legítimos. Como se define o cara que surfou a maior em Noronha, no Chile ou em Cortez Bank? Onde a mídia estiver é onde será surfada a maior?”.

Nascido em Vaiporã, no Paraná, o filho mais velho de Cisnando e Edna se mudou para São Sebastião em 1979 com os pais e os quatro irmãos. Cisnando era padeiro e Edna cuidava da casa. Em 1980, o pequeno Edílson era escoteiro e foi acampar em Guaecá, a 7 quilômetros dali. Por lá também acampavam biólogos da USP e um deles tinha uma prancha, uma monoquilha havaiana, que emprestou para o garoto brincar. O amigo mais velho que estava com ele tentou ajudar: “Alemãozinho, a série vem assim, de quatro, seis, dez ondas... Nunca pegue a primeira, tem que escolher direito a que você vai pegar”.

 

"Nunca ganhei dinheiro com o surf. Nunca tive carro nem ambições"

 

Foi o estopim para o menino de 10 anos começar a surfar. Dali em diante, vivia de pranchas emprestadas e surfava em Guaecá. Deixou a escola na quarta série e passou a fazer bicos em qualquer tipo de serviço, de limpeza de quintal a ajudante de pizzaiolo, e viu, naqueles anos, a estrada que terminava na praia de Santiago ser estendida até a praia de Maresias, lugar que, pouco tempo depois, passou a frequentar em busca de ondas mais agressivas.

Alemão chamava a atenção por surfar bem com qualquer prancha e encarar situações críticas com firmeza e coragem. “O cara se jogava, sempre se jogou. É um monstro”, diz o ex-surfista profissional Taiu Bueno, de quem Alemão foi enfermeiro por dez meses em 1991, depois que ele ficou tetraplégico. Taiu ri: “Ele me tirava da cama, me levava pra lá, pra cá, punha na cadeira. Ele tinha um amigo que tinha um Passat e a gente ia pro Guarujá, ia pra Maresias e eu ficava na casa sentado na cadeira vendo aquele marzão pirado”.

Depois, o posto de enfermeiro deu lugar às viagens pelo mundo. “Sempre gostei de desbravar lugares inóspitos, me meter em roubadas”, conta. Após o primeiro contato com o big surf no Peru, onde ficou três meses em 1993, fechou uma expedição ao lado do fotógrafo James Thisted, então da revista Hardcore, para a África do Sul e West Australia. “O Alemão sempre foi muito pilhado e atirado. Pra ele não tem tempo ruim, é um cara que vai pelo feeling”, diz o fotógrafo.

A jornada começou na Cidade do Cabo, de onde foram de carro até Jeffreys Bay. “Tinha umas ondas quebrando sem ninguém e o Alemão não queria nem saber. Se tinha onda, ele pegava a prancha e ia. Na Cidade do Cabo, paramos o carro e entramos no mar geladíssimo. Na primeira onda fiz uma sequência que veio a ser a minha primeira capa como fotógrafo e a primeira do Alemão.”

Na redação da revista, em São Paulo, os editores perguntaram: “Quem é esse Alemão?”. E veio a resposta que viria a ser seu apelido definitivo: “É aquele Alemão de Maresias”. “Quando a gente saiu do mar”, continua Thisted, “encontramos uns caras que falaram que a gente era louco de surfar ali, porque a água estava gelada demais até para os locais e o lugar era infestado por tubarões.”

Esse lado atirado também foi conhecido por Carlos Burle. No outside gelado do Chile, num mar de 80 pés (20 metros), em julho deste ano, Alemão o rebocava com o jet quando disse: “Fica calmo que eu vou pegar a maior da série pra você”. O coração do pernambucano disparou: “Eu sabia que, se viesse a onda, ele ia me colocar nela. Ele tem muito know-how, então, quando falou ‘fica tranquilo’, falei ‘caralho, agora fodeu!’”. Em seguida Alemão o colocou na onda que hoje é tida como uma das maiores já surfadas em toda a história. “A gente estava no limite do limite”, lembra Alemão. Depois da sessão, os dois se abraçaram e fizeram uma prece para agradecer por aquele momento.

Depois de um mês na África do Sul, em 1995, Alemão passou três meses em West Australia, numa caverna em Red Bluff, há 1.500 quilômetros de Perth. Em seguida, o surfista então com 25 anos começava a grande peregrinação pelo mundo do surf: um mês na Indonésia, mais três na Austrália, três no Havaí (onde teve seu primeiro contato com as ondas de Waimea e o tow-in) e, finalmente, sete meses na Indonésia, interrompidos abruptamente no final de 1996.

A idílica vida de freesurfer em meio a ondas, drogas e rock’n’roll parecia não ter fim. “Eu vivia o sonho, mas faltava alguma coisa”, enxerga atualmente. Depois de perder seu patrocínio e ficar sem dinheiro, se juntou com um cara para levar cocaína do Equador para a Indonésia. Na volta, foi preso no aeroporto Simón Bolívar e passou quatro anos em um presídio na cidade equatoriana de Guayaquil.

No início, Alemão dividia a cela de 2,5 por 5 metros com mais um preso. Com o tempo, conseguiu conquistar um espaço um pouco maior. Na primeira semana, viu a polícia matar três que tentaram fugir. Em outra ocasião, foi cercado por quatro presidiários que tentaram lhe roubar e desferiram punhaladas que, segundo Alemão, só não o furaram por um milagre. “Meu desejo era voltar a surfar, ser livre e fazer as coisas direito. Queria mudar minhas atitudes, respeitar mais os outros e olhar mais para as pessoas e para mim. Queria voltar a me descobrir, a ser o Alemão gente fina que a molecada gostava.”

Ao que parece, conseguiu o que queria. Neste começo de tarde de segunda-feira, Alemão volta para a água como se estar na terra fosse estar fora de seu hábitat. Um aluno o espera para ser puxado nas ondas. Alemão entra na água com a firmeza de uma rocha e domina o jet ski com habilidade. “No fundo ele gosta mesmo é de ajudar as pessoas”, diz Taiu. Com orgulho da alma caiçara, ele segue sua cruzada como uma das maiores referências atuais do big surf brasileiro, um verdadeiro “indicator”, como diz o jargão do surf: aquele cara que, quando rema para o mar, se você for atrás deve estar ciente de que alguma coisa muito séria vai acontecer ali.

*Fernando Gueiros é editor da versão brasileira do Red Bulletin, revista da Red Bull

Pacificado

Por Paulo Lima

Comecinho da década de 80. Pouca gente se aventurava nas estradas de terra e areia que, com muito custo, desembocavam na ainda quase intocada Maresias, escondida no litoral norte paulista. Praticamente não havia crianças na praia. Mulheres eram pouquíssimas. Mas um moleque branco e animado batia ponto nas manhãs de sábado e domingo naquele que depois veio a ser conhecido como o Canto do Moreira. De bicicleta, a pé, de carro, lombo de dromedário, o alemãozinho em questão dava um jeito de vir de São Sebastião e se plantar na beirada do mar. Ficava vendo as ondas e rezando para uma prancha se soltar do dono e vir dar na praia.

Quando dava essa sorte, corria para pegar a tábua desgarrada e pular em cima dela para sentir o gostinho de correr uma onda de peito na beirinha. Em dias menos afortunados, se contentava em recepcionar os moleques pouco maiores que ele, que, ao saírem da água, davam de cara com os dentes e os olhos arregalados do alemãozinho. Tudo parte de um grande sorriso cheio de vida. Nessas horas, um pedaço de parafina, deixar pegar uma ondinha na beirada ou mesmo um dedinho de prosa já faziam a cabeça loira daquele molequinho de 11 ou 12 anos fissurado em água salgada desde sempre.

Piazza, Paulinho Vainer, Fantinha, Dandão, Roberval e Renato Elkis, Edu Faria, Taiu, Pacelli, este escriba, entre alguns outros privilegiados que encontraram essas ondas ainda recém-descobertas e a praia vazia e sem casas, invariavelmente achavam graça naquele mascotinho branco. Éramos moleques tanto quanto ele, mas nos achávamos incrivelmente experientes do alto dos nossos 18 ou 19 anos. Gostávamos de dar a ele uma mistura de afeto com desafio e tensão. Entre um teco de parafina e um chute na bunda, empréstimo de prancha e uma frase falsamente ameaçadora, íamos criando o efebo e forjando sua fibra para encarar a vida no mar e no mundo.

Uma das frases que gostávamos de usar para praticar o espírito de porco macho-man adolescente que cultivávamos era mais ou menos assim: “Alemão, fica esperto que senão vamos fazer essa lombinha”. Um riso nervoso se instalava em seu rosto, como o de um bichinho acuado, apelando para a compaixão da matilha de predadores. Felizmente o que se seguia era só um afago na vasta cabeleira loira do molequinho amoroso e sangue bom.

Corte seco para o meio dos anos 90. Dia pesado de ondulação de sul e vento leste. Mais de 2 metros no line-up. Todos no pico com a atenção à flor da pele. Pouca conversa e muito movimento para se posicionar diante das séries rápidas e ocas. Nenhum espaço para brincadeiras ou vacilo. De repente, ouço do meu lado uma voz grossa e brincalhona em tom seguro disparando: “Então, Paulinho, fica esperto que senão vou fazer essa lombinha”.

Olho para trás e vejo aquele mesmo sorriso sincero, rasgado e cheio de carinho, só que agora rodeado por um maxilar quadrado, barba vermelha cerrada e uma caixa de músculos estufados e prontos para entrar em ação. Nosso bichinho de goiaba havia se transformado numa máquina de ler as ondas e voar no mar, com uma intimidade, um senso de colocação e uma naturalidade que poucas vezes vi em qualquer cidadão disposto a enfrentar os sete mares por onde andei.

Aquela versão de Chuck Norris praiana me disse palavras amistosas, me desejou o melhor e partiu para fazer o que sabe como ninguém: tirar as ondas para dançar. Deu um show. Sem arrogância, sem se achar melhor que ninguém, sem esperar fotos, troféus ou cheques.

Algum tempo depois, passei a ver seu nome por aí, sempre ao lado de figuras notáveis, como Taiu, Caixa d’Água, Pacelli, Burle, Formiga, Mancuzzi e outros, e na frente ou por dentro de ondas descomunais. Quando vacilou, indo tirar cadeia no Equador, mandamos um repórter até lá para ver como ele estava. O relato foi dentro do esperado. Alemão havia cativado a cadeia toda, virou pizzaiolo, servia detentos, guardas e visitas. Com sua humildade notável e seu saber intuitivo, tirou o castigo da melhor maneira possível, repensando a vida para reconstruí-la em seguida.

Durante todo esse tempo me perguntei por que um dos caras mais predestinados para dialogar com o mar e dançar com ele um pas-de-deux tão perfeito não conseguiu se beneficiar um pouco mais de seu próprio talento. Por que diabos não tem três ou quatro patrocinadores, uma casa legal, conta gorda no banco e poupança graúda? Teria nascido um pouco antes da hora certa e perdido o timing da geração que passou a ganhar melhor com o surf? Ser filho de gente muito simples pesou? Faltou uma faculdade? Seus traços rústicos, apesar de belos, não o credenciavam para o padrão estético das marcas?

Quando ouço o Alemão e sua fala leve, amorosa, calma, de alguém que parece exalar conforto com a própria existência e um tipo de plenitude que não se vê mais por aí, livre de qualquer sentimento menor ou complexo de inferioridade, penso que, na verdade, o Alemão de Maresias não precisa de mais nada. Apenas de ficar com os pés na água salgada, olhando pras ondas, sorrindo para quem passar. Tenho a impressão de que ele é um dos únicos que pode responder um verdadeiro, monossilábico e sincero SIM diante da caixa de supermercado e de sua indefectível pergunta: encontrou tudo que precisava?



Lucas Santtana

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Lucas Santanna é um dos grandes destaques da nova geração da música brasileira. Soteropolitano, ele é filho do Roberto Sant'Anna, importante produtor musical brasileiro, e primo de Tom Zé, que dispensa apresentações.

Multi-instrumentista, começou tocando flauta transversal em orquestras jovens, estudou música na Academia de Música Atual e na Universidade Federal da Bahia. Em 1994, deixou os estudos para tocar com Gilberto Gil. Além da colaboração com Gil, trabalhou ainda com Caetano Veloso, Chico Science e Nação Zumbi, entre outros. Como compositor, suas músicas já foram gravadas por Marisa Monte, Fernanda Abreu, Adriana Calcanhoto, Céu e Daniela Mercury.

Seu primeiro disco solo saiu no ano 2000, o Eletro Ben Dodô. Em 2009 lançou o Sem Nostalgia, álbum que alcançou enorme repercussão e que conquistou diversos prêmios tanto no Brasil quanto na Europa. No ano passado lançou seu quinto álbum, o O Deus que Devasta mas Também Cura

Playlist da semana:

Al Green - Take me to the River
KyMani Marley e Dominguinhos - Brasil (Little Sunday)
Leonard Cohen - The Future
Jack White - I'm Shaking
Lucas Santtana - O Deus que Devasta mas Também Cura

Vamos Pro Quarto

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Em 2002 surgia Cérebro Eletrônico, banda criada por Tatá Aeroplano e Fernando Maranho. Em 11 anos de carreira foram lançados três álbuns totalmente singulares, com toques que vão do tropicalismo ao eletrônico - Onda Híbrida Ressonante (2003), Pareço Moderno (2008)Deus e o Diabo no Liquidificador (2010).

Hoje eles lançam gratuitamente na internet o seu quarto álbum, Vamos Pro Quarto. São nove músicas que permitem notar uma entrega maior ainda à experimentação de novas formas de se fazer música. Cada faixa é uma sensação sonora diferente e é isso que caracteriza o trabalho da banda. Um brinde aos pássaros, música que abre o CD, é inesperada. A melodia não segue uma linha lógica e surpreende positivamente a cada segundo. Não Bateu Nosso Santo é mais dançante, seguida de Oh! My Lou, uma balada com a participação do músico Peri Pane no violoncelo.  

A produção ficou por conta da própria banda, com coprodução e mixagem por Otavio Carvalho. As gravações foram feitas no estúdio Submarino Fantástico e a masterização feita por Fernando Takara, do estúdio El Rocha.

Conversamos com Tatá Aeroplano, que contou mais sobre o novo trabalho:

Vocês se permitiram ir em busca de novas formas de expressão musical nesse trabalho ou isso surgiu naturalmente depois de lançarem três CDs? A gente foi passar um fim de semana no sítio com a ideia de criar canções a partir do nada. Não valia chegar lá com uma música, elas teriam que sair daquele momento. As canções que rolaram nasceram dali, muito espontâneo e que foi muito em função do nosso encontro com o André Abujamra, que disse que o lance era a banda criar um disco dessa maneira. Dedicamos o disco pro Abu e pro Flávio Guaraná, que tinha o estúdio onde nós ensaiamos desde a criação do Pareço Moderno.

A escolha por faixas mais longas tem algum significado ou vocês apenas deixaram fluir? Nós deixamos fluir tudo coletivamente, foi um processo muito livre e altamente dinâmico. Gravamos nove músicas e ficaram, provavelmente, mais de nove músicas de fora. 

E como foi no sítio? No site diz que "o disco foi concebido em um fim de semana alucinante nas montanhas". Passamos um fim de semana chuvoso dentro de um chalé. O lance então foi tocar ininterruptamente! Chegamos na madrugada de sexta pra sábado e só paramos para comer e olhe lá. Eu sei que eu dormi tipo umas quatro ou cinco horas durante todo o processo. O resto foi muita música rolando mesmo.

A composição das letras e produção foram coletivas, certo? As letras e as melodias eu fui criando ao mesmo tempo que a banda começava a compor uma música, um groove... A gente já se ligava que estava rolando um música e seguiamos em frente com a ideia. Somente a canção "Libertem os Faunos" teve letra e melodia feitas pelo Fernando Maranho. A produção do disco foi coletiva. Gravamos o disco no Submarino Fantástico e teve co-produção do Otávio Carvalho.

O show de lançamento vai ser dia 10 de outubro, aqui em São Paulo. As experimentações sonoras vão refletir no palco também? Estamos ensaiando pra isso acontecer.

A apresentação vai ter participações especiais? Peri Pane fará uma participação especial conosco, mas não podemos adiantar o que vai rolar ainda!

Vamos pro quarto pode ser entendido como uma metáfora? É uma metáfora, ou melhor, são várias metáforas. A primeira ideia de nome era outra, mas ai, lá nas montanhas, eu disse pra alguém da banda brincando: "Vamos Pro Quarto Baby!?" Ai a gente viu que esse era o nome do disco.

Em 11 anos de carreira e agora com quatro CDs lançados, você, Tatá, se acha mais livre para experimentar e explorar novas formas de criar música? Sim, sim. É lindo demais poder criar discos com liberdade. Acaba viciando. Esse ano passei boa parte dentro do estúdio, fazendo o Cérebro, fazendo um disco não identificado - o que chamo de disco ovni - e participando da produção dos discos do Juliano Gauche e Gustavo Galo.

Fernando Maranho também contou para a Trip sobre o Vamos Pro Quarto: "Foram 3 dias em que ficamos ali, 24 horas, pirando com os equipamentos montados no meio da sala, por vezes trocando de instrumentos, sem parar. Sairam cerca de 20 a 30 ideias já muito bem estruturadas. Adicionamos algumas poucas ideias de arranjo durante as gravações. Não houve ensaios antes de entrarmos no estúdio, o que foi uma experência nova e muito bacana também. É um disco completamente coletivo e posso afirmar que esse é definitivamente um disco da banda inteira, diferente dos anteriores que tinham mais composições minhas e do Tatá."

Capa do CD

Capa do CD

Anote na agenda: dia 25 de setembro, quarta-feira, vamos rebecer o Tatá Aeroplano aqui na redação para um hangout com transmissão ao vivo através das nossas redes do Google Plus. Você pode acompanhar a partir das 16h, ouvir as músicas, saber o que o Tatá tem a dizer sobre elas e também mandar as suas perguntas. 

Vai lá: Vamos Pro Quarto - Cérebro Eletrônico
Download disponível e venda de CDs no www.cerebrais.com.br

Show de lançamento: 10 de outubro, quinta-feira
Sesc Vila Mariana - R. Pelotas, 141 - Vila Mariana
Em breve mais informações através do site da banda

 

 Ouça na íntegra:

 

 

José Junior

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Uma viatura da polícia militar e um camburão da Core, a tropa de elite da polícia civil do Rio de Janeiro, guardam a portaria do condomínio elegante, nos arredores da capital fluminense. Enquanto aguardamos o porteiro avisar da nossa chegada, três homens trajando a farda negra da polícia especial descem do camburão empunhando fuzis M-16. 
Adentramos por ruazinhas estreitas, ladeadas de jardins sem grades. Na garagem está um policial do Bope, que, nas horas vagas, faz a segurança da família.

Ultrapassadas todas as barreiras, José Junior, o idealizador e coordenador do AfroReggae, abre a porta. Com um Red Bull na mão, trajando bermudão e chinelo, o cabra marcado para morrer nos conduz para a piscina. Por quase 4 horas, fala sem trégua, entremeando o discurso com goles do energético (foram cinco latinhas durante o papo). Carioca marrento, dono de uma personalidade controversa, visual extravagante e oratória afiada, José Junior entrou para uma macabra lista VIP: a dos jurados de morte.

Ele está na mira de traficantes do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, fato comprovado por escutas telefônicas que registraram um papo entre Marcinho VP, chefe do Comando Vermelho (CV), e Fernandinho Beira-Mar, ambos presos na penitenciária de Catanduvas, no Paraná. Avisos claros já foram disparados: em julho, traficantes incendiaram a sede do AfroReggae no Alemão e, três dias depois, dispararam tiros de fuzil contra a sede da Penha. Os funcionários da ONG foram coagidos a deixar as favelas. Na conversa entre VP e Beira-Mar, o segundo diz: “Foi o Juninho... Ele que está por trás disso, né? Tinha que mandar um salve lá para ele”. “Salve”, na linguagem do tráfico, quer dizer represália. Os dois traficantes foram indiciados pelos ataques.

Assim como os dois o chamam de Juninho, José Junior também demonstra intimidade com vários escalões. Quando fala do João, refere-se a João Roberto Marinho, presidente das organizações Globo. Sérgio é o governador do Rio, Sérgio Cabral. Paulo é o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Pablo Capilé, ativista cultural que esquentou ânimos por causa da Mídia Ninja e do movimento Fora do Eixo, é apenas Pablo. E Marcinho VP, chefe do CV, vira Márcio na boca do empreendedor de 45 anos.

“Minha mulher perguntou até quando isso vai durar. Respondi: talvez para sempre”

A afinidade com grupo tão diverso foi conquistada de grão em grão. Em 1993, fundou o AfroReggae. Vinte anos depois, a ONG nascida na favela de Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro, é um case social que hoje movimenta R$ 20 milhões por ano, emprega diretamente cerca de 400 pessoas e sustenta 50 projetos só nas favelas cariocas. José Junior também virou apresentador de TV. Seu programa Conexões urbanas, do Multishow, vai para a sexta temporada em outubro.

Além do trabalho na ONG, ficou célebre graças ao ofício de mediador de conflitos. Há alguns anos, figura na guerra carioca como o sujeito que fala com os dois lados: cúpula dos bandidos e cúpula da polícia. Assume, por exemplo, ter sido amigo de Marcinho VP. Quando o Complexo do Alemão foi invadido para a instauração de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), em novembro de 2010, subiu o morro para pedir aos traficantes que evitassem o confronto.

A boa relação com o crime organizado, no entanto, azedou por causa de um pastor evangélico. No ano passado, José Junior denunciou Marcos Pereira, líder da Assembleia de Deus dos Últimos dias, com sede em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Acusações: estupro de mulheres e menores de idade, associação com o tráfico e envolvimento em ataques de facções criminosas no Rio, em 2006 e 2010, com ônibus queimados pela cidade e cabines policiais metralhadas.

Segundo José Junior, a igreja de Marcos Pereira seria uma espécie de lavanderia do CV e o pastor, um “conselheiro do tráfico”. Até pipocarem as denúncias, ele e Marcos Pereira eram companheiros na tarefa de mediar conflitos e retirar jovens do crime. Agora, a amizade virou uma arma apontada para a sua cabeça. José Junior hoje vive dentro de uma bolha. O banco Santander, patrocinador do AfroReggae, disponibilizou dois carros blindados e paga homens do Bope para se revezarem 24 horas na segurança. Há sempre dois “caveiras” na cola de Junior, da mulher e dos cinco filhos (a mais velha com 13 anos; o mais novo, um bebê nascido no mês passado).

Na manhã fria de sábado em que o encontramos, José Junior estava em casa só com o filho de 4 anos. No longo papo, ele relata a saga com o pastor Marcos Pereira, diz não acreditar que qualquer mal vá lhe acontecer e garante que já fez do limão uma limonada, com a campanha “A pacificação é nossa, o AfroReggae é nosso, deixem o Rio em paz”, lançada em jornais e na Internet no dia 23 de agosto e que ganhou adesão até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Jura fidelidade ao Sérgio, o Cabral, apesar de a popularidade do governador estar em queda livre e seu cargo na berlinda desde que começaram as manifestações de junho.

Ao final da conversa, saímos em comboio do condomínio escoltados pelo camburão da Core, com os três policiais exibindo para fora das janelas os fuzis M-16, para comer no quilo da esquina. “Se eu vou dar um passeio no shopping, eles estão atrás de mim. Vou correr, eles estão atrás de mim. Não posso mais fazer nada sem eles”, José Junior diz, sem sinal de que isso o incomoda. “Minha mulher me perguntou até quando isso vai durar. Eu respondi: talvez para sempre.”

Quando você conheceu o pastor Marcos Pereira? Por muitos anos, eu ouvi as histórias de um pastor que fazia mediações de conflitos, parava rebeliões e tinha acesso a favelas. As pessoas falavam que eu tinha de conhecê-lo. Um dia, em 2006, fui encontrá-lo.

Onde foi o encontro? Na igreja, em São João de Meriti. Eu de sandália, bermuda, camiseta, todo tatuado, brincos. Ele falou: “Já fui igual a você. Já fumei maconha, usei drogas, bebi”. Julgou pela aparência. Aí falei: “Pô, então tu nunca foi igual a mim: eu nunca bebi, nunca fumei maconha nem usei drogas”. Houve uma empatia. E comecei a ver coisas impressionantes.

“Muita gente, como o Marcelo Freixo, me aconselhou a ficar atento [com o pastor]. Achei que era preconceito”

O que, por exemplo? Essa coisa de realmente existir um poder de sugestão, que quando usado para o bem é muito bom. Eu achava que ele usava para o bem. Nunca fui da igreja, mas ia para conversar. Não sobre espiritualidade, mas sobre mediação de conflito, histórias do crime. Nesse meio-tempo, passei a perceber que o cara não era ele, mas o Rogério [Menezes, na época assistente do Pastor Marcos]. Rogério é que ia para o front, negociava.

O que você viu que mais o impressionou? Acho que foi ver bandido desmaiando. O Marcos Pereira botava a mão e o cara caía de fuzil na mão. Impressiona muito, porque bandido geralmente não paga mico, né?

Pessoas que saíram do crime pelas mãos do pastor, como Feijão (ex-chefe de Acari) e Norton (líder da rebelião no presídio de Benfica), foram para o AfroReggae. Você e ele tinham uma parceria? Sim. Mas, quando as pessoas saíam da igreja e iam para o AfroReggae, elas contavam a outra versão. E aí começou a vir a decepção. O que acontece é o seguinte: você chega lá na igreja e vê histórias muito fortes. Fica impressionado, impactado. Eu fiquei impactado e impactei muita gente. Levei uma lista de pessoas para conhecer o pastor, muitos jornalistas.

Você nunca foi tocado espiritualmente por ele? Não sou evangélico, apesar de ter uma relação forte com Deus. Li a Bíblia da primeira à última página, Velho e Novo Testamento. Não sou um expert, mas via que eles falavam coisas erradas no culto. Confundiam personagens, por falta de conhecimento. Eu achava estranho, mas ficava na minha. 

O pastor mantinha uma disciplina medieval na igreja, tudo era proibido, de sexo a Coca-Cola. O que você achava disso? Muito equivocado. Para me provocar, como ele sabia que eu gostava de divindades, sejam hindus ou africanas, ele falava no culto: “Buda e Shiva eram demônios”.

Você desconfiou que havia uma conotação sexual entre o pastor e as mulheres da igreja? Tinha uma relação esquisita com as mulheres. Mas era de ambas as partes, um flerte. Para mim, não tinha nada de mais.

E da ligação econômica com o tráfico, desconfiou? Disso eu desconfiei, mas nunca tive prova. Ele dizia que não, traficantes negavam. Muita gente, inclusive o deputado Marcelo Freixo, me aconselhou a ficar atento. Eu achava que era preconceito por ele ser evangélico.

O que o fazia suspeitar? Ele tinha umas Land Rovers, dizia que empresários convertidos haviam doado. Eu sabia que não era dinheiro arrecadado nos cultos. O público da igreja é pobre, ele não teria aquele patrimônio. Eu achava que era dinheiro de políticos, porque o pastor angariava milhões de votos. Mas o que me atraía era o fato de ele ter controle em rebeliões, favelas, penitenciárias.

Como você começa a desconfiar de algo errado? Quando o Norton e o Feijão vêm para o AfroReggae e me contam coisas. Aí percebo também que algumas pessoas, ao sair da igreja, voltavam para o crime. Estranho pra cacete. Ninguém é obrigado a ficar para sempre na igreja. Mas ir pro crime de novo? Estranho. E muitos eram assassinados de repente. Aí, em 2009, um amigo me fala: “Pô, o Rogerinho saiu da igreja lá do pastor”. E eu falei: “Sério? Mas o Rogério é o braço direito do cara”. Meu amigo não sabia o motivo: “Pois é, saiu, mudou telefone, parece que mudou de casa”. Falei: “Porra, quero ligar pra ele. Rogério é um puta mediador de conflito”.

Antes de continuar: o que é mediador de conflito? Nesse caso é guerra entre facções do narcotráfico, guerra com a polícia, guerra entre facções e milícia. Você entra pra tentar mediar o problema para que inocentes não morram. O Rogério fazia mais que isso. Pegava pessoas amarradas para morrer e arrancava das mãos dos traficantes. Pessoas que deviam ao crime ou mesmo policiais.

“Quando minha mulher teve contrações, não pude correr pra maternidade. Tive que esperar a chegada da escolta. Foi muito estranho”

Quando você localizou o Rogério? No início de 2009, ele foi na minha casa e falei: “Pô, o que que houve?”. Ele conta que a mulher tinha sido estuprada pelo pastor. Não acreditei. O papo foi na frente dela, eles começaram a chorar. Ele disse que o pastor pegava dinheiro do tráfico, que muitas rebeliões eram teatralizadas, o pastor mandava fazer para ir lá e “resolver o problema”. Que, nos vídeos dos resgates em favelas, ele mandava bater no cara para aparecer como salvador. Um show de horrores.

Você acreditou no Rogério? O dinheiro passou a ter explicação. Mas na parada do estupro eu não acreditei. No dia seguinte falei com o pastor: “Vem cá, meu irmão, o Rogério me contou que você transou – não tive coragem de falar estuprou – com a mulher dele”. Ele virou outra pessoa. Disse: “Mermão, tu manda ele se foder. Comi a mulher dele mesmo. A vagabunda quis dar e eu comi”.

O Rogério sabia que você ia falar com o pastor? Não. Quando contei para ele, o Rogério ficou apavorado: “Porra, ele vai mandar me matar”. Eu disse: “Que é isso, cara? Ele não vai matar ninguém”. E o Rogério repetia: “Vai, eu estou morto, Junior”. Aí contratei o Rogério e o pastor passou a ter ódio de mim. Fazia cultos em favelas em que eu atuava e espalhava que eu tinha o diabo no corpo. Até que um dia um traficante me contou que o Waguinho [ex-líder do grupo de pagode Os Morenos, hoje pastor evangélico] foi em favelas dizer que eu era X-9, que estava ligado à inteligência da polícia .

Isso é sentença de morte no crime organizado. Claro. Eu liguei para o pastor puto da vida. Isso no final de 2009, começo de 2010. Falei exatamente assim: “Meu irmão, você está grampeado, eu também devo estar. Vai tomar no teu cu, seu filho da puta. Se acontecer alguma coisa com o Rogério ou com alguém perto de mim, tu vai aparecer na capa dos jornais preso. Só vou sossegar quando eu te ver de camisa verde e cabeça raspada”.

O que ele respondeu? “Que é isso, meu filho? É tudo mentira. Vou fazer uma oração para você.” Eu falei: “Oração é o caralho, seu verme”. Aí ele passou a fazer cultos falando muito bem de mim, e isso que era o preocupante. Se ele fala bem de mim e acontece alguma coisa, iam dizer: “Porra, o pastor não! O pastor gosta dele!”. Aí conversei muito com pessoas ligadas a ele, inclusive mandei recado para o Márcio [Marcinho VP, chefe do Comando Vermelho]. Eu sabia que o Márcio era a força dele, mas que não fechava com estupro, pedofilia, essa coisas.

Até então você não sofreu ameaça? Em 2012, um ex-traficante que hoje está no AfroReggae chegou e falou: “Junior, eu estive lá na boca. Porra, os caras falaram para eu sair do AfroReggae, que o pastor está botando todo mundo aqui na bola para morrer, inclusive você”. Foi quando comecei a receber vítimas de estupro e filmar as histórias, com o consentimento delas, claro.

Mas não denunciou à polícia? Eu tinha falado com autoridades, mas o negócio não andava. Ele é ligado a políticos poderosos. Pensei: o jeito de blindar a gente é botar na mídia. Liguei para o jornal Extra e ofereci entrevista.

Depois dessa entrevista, o boato era que se tratava de briga de amigos. Teve esse erro, a matéria deu a entender que era briga entre amigos, ou ex-amigos. Rendeu a semana inteira. Aí fui no Marcelo Freixo e ele me convocou para depor na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em março de 2012. Depois, fomos ao Decod (Delegacia de Combate às Drogas). Foi uma decepção. Era pra ele ter sido preso logo e só foi preso este ano.

Por que demorou para ele ser preso? Todos esses anos ele foi minerado. Sabe o que é isso? Ele foi extorquido várias vezes, entendeu? Era muito dinheiro envolvido.

E como ele conquistou tanto poder no crime organizado? Ele sempre foi “treteiro”, “volteiro”. Quando era garçom, deu o golpe no maître e virou maître. Aí entrou para a igreja, derrubou o pastor e assumiu o comando. O Marcos Pereira tem o dom da oratória. Não tem conteúdo, mas tem oratória, tem carisma. É um psicopata.

Mas e a ligação com a cúpula do crime? Quem levou o pastor até o Márcio foi o Rogério. O Márcio é uma vítima dele. Ele não tem interesse que o Márcio saia da cadeia. Enquanto o Márcio estiver preso, ele exerce o poder.

Ele era a voz do Marcinho VP aqui fora? Continua sendo, mesmo preso. Tem pessoas operando para ele.

Como as coisas se desenrolaram até o pastor ser preso? Outras vítimas apareceram para falar. Pela primeira vez havia pessoas mostrando o rosto. Sempre rolaram investigações que não deram em nada. Viemos a descobrir que teve uma menina que quis denunciar e ele mandou matar, a Adelaide. Ela frequentava a igreja e fez um vídeo com as orgias, com as sacanagens, com o negócio do dinheiro. Ele mandou matar a garota.

Você se sentia ameaçado? Recebi informações de que quatro pessoas no AfroReggae estavam marcadas: eu, Rogério, Tuchinha [ex-chefe do tráfico da Mangueira] e Gaúcho [ex-chefe do Complexo do Alemão]. Tuchinha e Gaúcho cumpriam a semiaberta. Saíam da cadeia durante o dia para trabalhar. O plano era matá-los na saída. Eles estavam trabalhando comigo e sabiam demais.

Em 2006 e 2010, o Rio viveu ondas de terror, com ônibus queimados, cabines policiais metralhadas. Você declarou que o pastor estava por trás disso. Tudo tem a ver com ele, é a mente do crime. Em 2010, os ataques foram na véspera das eleições para atingir o Sérgio [Cabral, então candidato ao governo]. O Marcos tem interesses políticos. O candidato dele ao Senado, o Waguinho, um desconhecido, teve mais de 1 milhão de votos.

Você soube disso na época? A informação de que haveria os ataques, sim. Tentamos fazer a mediação e isso me colocou numa situação de extremo risco. Foi enviada uma carta, apreendida na penitenciária de Catanduvas, com o seguinte texto: “O cara do AfroReggae, fortão com o governo, está entrando na mente dos nossos irmãos de Bangu 3. Peço autorização para suspendê-lo com muita inteligência”.

Logo depois ocorreu a ocupação dos Complexos do Alemão e da Penha. Você não teve medo de subir o morro, já que uma carta pedia seu pescoço? Ninguém entendeu por que eu demorei para ir, as pessoas não sabiam da carta. Até que o Marcelo Freixo se colocou à disposição para subir e tentar evitar um banho de sangue.

E você resolveu acompanhá-lo? O Brother, funcionário do AfroReggae no Alemão, me ligou e falou: “Estou vindo da boca. Os caras querem te ver. O Pezão”. O Pezão era o cara que mandou a carta. Era justamente o filho da puta. Aí eu falei: “Ah é, Brother? Leva o telefone lá”. O Pezão falou: “Pô, era legal você mediar essa situação aqui, porque todo mundo vai morrer”. Respondi: “Engraçado, agora você fala em mediar, mas mandou cartinha, né?”. E ele: “Não fui eu, não mandei nada”.

Eles estavam com medo da invasão da polícia? Estavam. Falei para o Pezão: “Tu é um safado, uma pessoa sem escrúpulos, cretino, covarde, filho da puta”. Ele continuou insistindo que precisava de mediador. Aí, Rogério e Gaúcho me convenceram. Falaram: “Porra, Junior, vai morrer inocente, vai morrer culpado, vai morrer polícia. Só tu pode desarmar essa parada lá em cima”.

A cena era impressionante: os bandidos fugindo em fila pela trilha que liga os Complexos da Penha e do Alemão. Meu filho, hoje com 2 anos, tinha acabado de nascer. Pensei: “Caralho, vou subir essa porra, posso morrer. O moleque não vai nem conhecer o pai direito”.

As imagens de você subindo o morro com os tanques cercando o complexo de favelas correu os jornais. Antes de subir, fiz uma reunião com o presidente da associação de moradores. Falei com o irmão do Márcio, que não é envolvido e sempre me ajudou nas mediações. Éramos 30 pessoas subindo, eu na frente, camisa do AfroReggae. Quando chegou lá em cima, éramos só três.

“Entrar no Complexo do Alemão, o grande bunker do CV, considerado impenetrável, era uma vitória emblemática, quase utópica”

Mediar naquela circunstância era convencer os caras a se entregar? Não. Era convencê-los a não revidar. O Pezão era chefe do Alemão naquele momento. Você o encontrou lá em cima? Não, já tinha fugido. Estava o Fabiano, o FB, da Penha. Parecia um militar cansado de uma guerra. Ele estava chorando. Falei: “Cara, não tem que atacar. Vocês vão morrer. Vai morrer inocente. Vale a pena?”. Ele chamou todo mundo e disse que ninguém deveria atacar.

Havia muitos traficantes lá no alto? Muitos. Todos combalidos, assustados, mas querendo ir para o confronto.

A retomada do Alemão e da Penha foi um espetáculo midiático. Qual a importância real? Entrar no Complexo do Alemão, o grande bunker do CV, considerado impenetrável, era uma vitória emblemática, quase utópica. Só foi possível com auxílio da Marinha e do Exército.

O que as UPPs trouxeram para o Rio de Janeiro? Autoestima. O morador da favela passou a ser menos discriminado. E tem uma reconquista pessoal, de a pessoa ter acessos a créditos que antes não tinha. O favelado começa a ser um cidadão. O poder público hoje entra nas favelas, através da coleta de lixo, dos serviços da Light...

Voltando a Marcos Pereira, como foi o final da novela? Quando muda a gestão da Decod, ele vai preso. Com os mesmos casos, sem entrar nada novo.

O que você sentiu quando o viu preso? Eu estava na Espanha, soube por telefone, de madrugada. Parecia que eu tinha tomado uma caixa de Red Bull. Vou te falar: eu chorei. Liguei para o Rogério emocionado. Mas eu sabia que a guerra ia tomar uma proporção maior. Sou místico, meu número é o sete, e ele foi preso no dia 7 de maio de 2013.

E aí começam os ataques ao AfroReggae? Dia 26 de maio, nove dias depois. Na corrida que organizamos no Complexo do Alemão houve tiro pra caralho. Nego atirando pro alto durante o evento. Era o começo das represálias.

E depois incendiaram uma das sedes da ONG. Eu estava com o meu pai no hospital. O telefone tocou e me falaram que os traficantes queriam que a gente deixasse a favela. Corri para a sede e meu telefone toca de novo: meu pai tinha morrido. Não pude chorar, estava numa reunião difícil. Quando acabou, chorei pra caralho.

Você não cogitou fechar as sedes do Alemão e da Penha? Não. As pessoas pediram pra fechar, dizendo que iam morrer. Liguei pro Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril, e pedi pra ele fazer alguma coisa na [revista] Veja. Tínhamos que usar as nossas armas. Saiu na Veja. Depois dei uma coletiva, Jornal Nacional, todo mundo.

Vocês fecharam por um tempo a sede do Alemão, não? Durante a visita do papa, o que já estava programado. Depois reabrimos. Houve tiros de novo. Atacaram a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, fuzilaram lá. E, quanto mais eles batiam, mais eu revidava, falando na imprensa.

Você chegou a ser procurado por representantes do tráfico? Sim, queriam negociar, queriam que eu tirasse a queixa contra o pastor. Falei: “Não, nem fodendo”.

Quando percebeu que a guerra não era mais contra o pastor, e sim contra Marcinho VP e Beira-Mar? No ano passado. Mas o Beira-Mar não tem nada contra mim. O filho dele trabalhou no AfroReggae. Encontrei a esposa dele em trabalhos que faço em presídio e ela me tratou bem. Ele foi levado de bucha nessa história.

Como é estar na posição de um ameaçado de morte? Não me sinto assim, mas sei que estou. Minha vida mudou? Mudou. Hoje tenho um esquema de segurança em torno de mim, bancado pelo banco Santander. O governo do estado também disponibiliza unidades da PM para manter guarda na porta das sedes do AfroReggae. E eu ando com escolta da Core. Para mim, hoje, ir ao cinema é complicado. Tudo é complicado.

Sua vida ficou mais restrita? Bastante. Não posso fazer uma caminhada. Como vou caminhar com um monte de cara com fuzil atrás de mim? Quando minha mulher teve contrações, não pude correr para a maternidade. Tive que esperar a chegada da escolta. Muito estranho.

Você nunca pode sair sem a escolta? Não. Ninguém nunca tinha dito não pro narcotráfico antes. Fui a primeira pessoa talvez na história a dizer que não ia seguir ordem deles. Ou eu fecho o AfroReggae ou vão me matar? Como acatar uma parada dessa? Quem me conhece sabe que a minha atitude só podia ser essa. É o meu jeito.

Você teme pela família? Não falo disso.

Como nasceu a campanha “A pacificação é nossa, o AfroReggae é nosso, deixem o Rio em Paz”? Resolvi juntar pessoas bacanas, de vários segmentos, para um movimento de valorização do AfroReggae, da pacificação. São 54 nomes. Luciano Huck, Cissa Guimarães, Fábio Barbosa, Ricardo Guimarães, André Skaf, Márcia Florêncio, Junior Perim, Cacá Diegues, Hélio de la Peña... Uma coisa com a cara do AfroReggae, uma galera.

Quais os resultados da campanha até agora? O Fluminense entrou em campo com a faixa da campanha. O Corinthians meteu a hashtag #forçaafroreggae na camisa. Aí o Vasco foi além, entrou com a faixa e com a hashtag. O Rappa gravou um vídeo, postou. Aí veio o Concerto pela Paz, para comemorar os 20 anos do AfroReggae e pela pacificação, Teatro Municipal lotado. Agora já tem planejado um grande evento de meditação. A gente tá criando um conceito de que todo mundo foi atingido por aqueles tiros. Conseguimos 121 milhões de acessos, uma adesão do caralho.

Todo morador do Rio reconhece os benefícios da política de pacificação. Mas há críticas: ditadura policial nas comunidades, repressão contra os jovens, nenhum investimento social... O que acha dessas críticas? Concordo. Mas essa mesma juventude que está reivindicando nunca criticou o tráfico, que fez uma ditadura 10 mil vezes pior do que a dos policiais. Hoje, só de poderem se manifestar, seja contra a polícia ou contra o governo, já é um caminho melhor. Mas não dá para o capitão ou o major de uma unidade pacificada ser o gestor daquela comunidade e substituir o líder comunitário. Não dá.

Qual o caminho? O certo seria fazer uma composição, um tripé. O homem que cuida da segurança pública, que é o capitão ou o major, o líder comunitário e alguém da Secretaria de Governo fazerem uma gestão conjunta. Dizer que está tudo bem é mentira. Tem muitos problemas. Mas tem como melhorar. É um programa que tem que ser adaptado, é muito novo. Agora, uma coisa é certa: só polícia não resolve. Tinha que ser uma gestão tripla.

É só uma questão de ajustes no programa, então? A UPP, a pacificação, é a melhor coisa que aconteceu no Rio de Janeiro nos últimos tempos. Ter um programa de governo na área de segurança é do caralho. Bater na UPP hoje, enfraquecer a UPP, é retrocesso.

Mudou também o perfil do tráfico no Rio? Uma vez você disse que só encontrava bandido doido para largar o crime. Continua todo mundo doido pra sair. O fato ocorrido com o AfroReggae foi sinal de fraqueza. Se o tráfico estivesse forte, eu já teria morrido. Nesse momento, temos que dar apoio à política de pacificação. Quem quer o bem do Rio de Janeiro tem que querer que certas políticas avancem e a pacificação é uma delas. Desde que começou a pacificar, são menos 100 mil balas que a polícia gasta. Isso pode significar menos 100 mil pessoas mortas.

No momento há muitas manifestações no Rio contra o governador Sérgio Cabral, denúncias de corrupção no governo, de mal uso do dinheiro público... Você o apoia? O Sérgio foi foda. Ele me disse: “Irmão, se você quiser sair do Brasil, eu não gostaria, mas eu vou respeitar a sua decisão. Mas, se você ficar, nós vamos te dar toda proteção”. Gosto muito dele, acho que fez bem pro estado onde eu moro. Denúncias? Realmente tem várias denúncias que não se comprovaram ainda. Se for comprovado, ele tem que perder o mandato. Se ele for bandido, como qualquer bandido, tem que ir preso.

Até que provem o contrário, vocês são parceiros. Estou sabendo que um deputado ligado ao pastor Marcos vai me denunciar por lavagem de dinheiro do narcotráfico. E aí? Denúncia não é prova. Repito: eu gosto muito do Sérgio. É uma pessoa que eu passei a admirar.

Mas você sabe que declarar amor ao Sérgio Cabral hoje é polêmico. Eu graças a Deus tenho essa independência. Sábado tive o prazer de twittar três coisas. 1: Tenho muito orgulho da minha parceria com as organizações Globo. 2: Estou muito feliz com as novas parcerias com a editora Abril. E 3: Eu acredito no Pablo Capilé.

Você conhece bem o Capilé? Adoro, sou fã. Postei uma foto minha com ele. Fiz isso porque eu acho que o garoto merece. Se eu hoje tivesse 20 anos, eu ficaria um tempo na Casa do Fora do Eixo. O Pablo é foda. Eu falo o que eu penso. Eu não jogo para a plateia, entendeu?
 

José Junior esteve nas Páginas Negras da Trip #142. Vai lá http://goo.gl/EedeKL


O discurso do rei

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REX Features/Philippe Hays

O falecido Roy Bates sorri com o seu país-plataforma ao fundo

O falecido Roy Bates sorri com o seu país-plataforma ao fundo

Levando em conta a tradição monárquica britânica, o major reformado Roy Bates, morto no ano passado, teria mínimas chances de figurar entre as altas rodas da corte e seguiria como mais um veterano da Segunda Guerra fissurado por rádios piratas. As normas, porém, não o impediram de ver o rosto da família dele cunhado em selos postais da realeza. Como? Em 1967, ele fundou o próprio país em uma plataforma naval abandonada em águas internacionais do Atlântico, a 10 quilômetros da costa britânica. O sonho da vida dele chama-se Principado de Sealand e tem 550 metros quadrados, além de bandeira, passaporte, moeda própria e time de futebol. Conversamos com o príncipe Michael Bates, filho de Roy.

Quem vive em Sealand? Temos dois moradores que ficam lá o tempo todo e às vezes alguns visitantes.

Quanto tempo você passa lá? Eu viajo muito, então não fico muito tempo no país. Acabei de voltar de um congresso em Las Vegas, nos EUA.

Você trabalha? Como o reino se sustenta? Trabalho na área de segurança de informação. Somos financiados pelas pessoas que contribuem conosco comprando títulos de nobreza – condes, barões, lordes e ladies [quem quiser ser conde de Sealand, por exemplo, precisa desembolsar 30 libras].

Em 2007, o site de downloads de música e filmes Pirate Bay tentou comprar o território ara instalar lá seus servidores. Como anda a negociação? Eles começaram a juntar dinheiro, mas não estamos mais negociando. Nosso país não está à venda. Sealand não é reconhecido como país pela ONU. Qual será o futuro dele? Quem sabe o dia de amanhã?

Vai lá: www.sealandgov.org

Maurício Cotrim

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Antônio Brasiliano

Mauricio na clínica onde atende em Itu

Mauricio na clínica onde atende em Itu

Maurício Cotrim é psicólogo especializado na recuperação de dependentes químicos, mas por um bom tempo esteve na outra ponta desta equação. Paulistano, sua experiência com as drogas começou cedo, ainda no colo do pai, bebericando cachaça. Aos 7 anos fumou seu primeiro cigarro, aos 10 usou inalantes, aos 13 conheceu a maconha e a cocaína e, aos 15, veio o crack e, com ele, a proximidade do fundo do poço.

Sua relação com as drogas começou a mudar em 1994, através de uma edição especial da revista Trip sobre cocaína, onde escutou falar pela primeira vez sobre a dependência química. Alerta sobre sua condição e com o apoio da mãe procurou ajuda, fez tratamento, superou as recaídas e, reabilitado, decidiu utilizar sua experiência para ajudar aqueles que sofrem da mesma doença que por anos o atormentou. Começou fazendo trabalho voluntário no Narcóticos Anônimos, fez cursos, estagiou em clínicas e, em 2010, se formou em psicologia. Atualmente utiliza seus conhecimentos para reabilitar dependentes químicos em duas clínicas especializadas e em seu consultório particular.

Sites citados por Maurício no programa: 

www.institutonovomundo.com.br (Instituto Novo Mundo - Itu)
www.soberhousebrasil.com.br (Sober House Brasil - São Paulo)

Playlist da semana:

Belleruche - Anything you Want
Tim Maia - Sossego
Rodriguez - Inner City Blues
Marisa Monte - Tempos Modernos
George Harisson - Give me Love

O Disco de Arnaldo Antunes

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Camila Eiroa

Arnald Antunes em coletiva na Casa de Francisca

Arnaldo Antunes em coletiva na Casa de Francisca

Em uma tarde gelada em São Paulo, Arnaldo Antunes falou sobre seu Disco em uma coletiva de imprensa na Casa de Francisca. O novo CD veio depois de quatro anos do Iê Iê Iê, último de inéditas, e também do Ao Vivo Lá em Casa e do Acústico MTV, nos quais o cantor e compositor trabalhou músicas de toda a sua carreira. Gravado entre março e agosto, são 14 faixas, sendo que quatro delas foram divulgadas na internet antes mesmo do CD ser lançado.

Divulgação

Discop

Capa do Disco

A escolha por disponibilizar o áudio de Muito Muito PoucoDizemTarja Preta e Vá trabalhar veio para causar reflexão sobre o significado de um disco na era de música virtual. "A forma que eu estou lançando esse disco hoje é diferente. É uma adequação a um novo padrão que está pintando que é o das pessoas poderem consumir e ouvir música na internet de uma maneira avulsa.", diz. Para Arnaldo, isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. Ele valoriza o processo ritualístico de ouvir um álbum por completo e poder observar o diálogo faixa-a-faixa, mas aceita que o formato shuffle vai conviver com todo mundo no decorrer do tempo.

Em seu 13º CD, Arnaldo também conta com uma vasta lista de parcerias que transita entre músicos conhecidos e novos artistas. São composições com João Donato, Caetano Veloso, Céu, Hyldon, Felipe Cordeiro, Luê, sua mulher Márcia Xavier e também com Marisa Monte, Dadi Carvalho e Nando Reis, parceiros que não vêm de hoje. Os músicos que o acompanham desde trabalhos anteriores como Curumin, Edgard Scandurra, Chico Salem, Betão Aguiar e Marcelo Jeneci, se dividem em cada faixa com Daniel Jobim, Pupillo, Guizado, Fernando Catatau, Davi Moraes, Pedro Sá, Estevan Sinkovitz, Anelis Assumpção, Márcia Castro e muitos outros nomes que fizeram desse trabalho muito plural.

"É um disco bem diversificado. Acho que é um contraponto ao Iê Iê Iê, que é mais coeso como sonoridade, todo gravado com a mesma banda em cima de um gênero musical", compara o cantor, que também fez uma versão de "Mamma", canção de Gilberto Gil, o que considera como uma ousadia.

Apesar da ideia de entrar em estúdio só no ano que vem e continuar com a turnê do Acústico, todas as composições e ideias que surgiram durante as férias do começo do ano fizeram com que Arnaldo resolvesse gravar mesmo durante os shows. Disco tem previsão para ser lançado no começo de outubro, com patrocínio do programa Natura Musical. 

O disco começa a ser divulgado em turnê dia 13 de outubro na Concha Acústica de Salvador. Em São Paulo, Arnaldo faz show do Sesc Belenzinho em novembro. Ouça e veja a agenda no site: www.arnaldoantunes.com.br

 

"Não acho que dê pra generalizar a internet em boa ou má, porque isso de certa forma menosprezaria a capacidade pessoal de cada um em se relacionar com ela"

 

Suas parcerias vão desde Caetano Veloso até a Céu. Elas passam por várias gerações da música. Você acha importante ter esse contato com novos artistas? Sem dúvida. Acho que existe essa ideia de que uma geração vai substituir a outra, e o fato de eu conviver e compor com pessoas de gerações anteriores a minha e também mais novos desfaz um pouco essa imagem. O Grêmio Recreativo, da MTV, é um programa no qual eu tentava fazer justamente esse diálogo. Quem produz um trabalho novo continua sendo novidade, por mais que tenha uma carreira antiga. Eu acho que tem aí uma geração de músicos mais novos e de compositores interessantíssima.

Abrir o trabalho antes de lançá-lo para as pessoas escutarem gerou tanto reações positivas quanto negativas. Você levou em consideração algum comentário para a escolha das faixas do Disco? Não era algo que estivesse orientando a feitura do disco, porque já era algo que estava selecionado. Eu gostei dessa troca de ir mostrando aos poucos, ver a expectativas e comentários que isso gera - sejam críticas ou elogios. Gostei também de ter um retorno do público enquanto gravava o disco, mas isso de mudar os rumos não aconteceu.

Ainda sobre a internet, em "Sou Volúvel" você se pergunta “De onde a ideia vai sair?”. Você acha que a facilidade em divulgar e conhecer novos trabalhos na internet pode limitar a criação sonora? Limitar? Não. Acho que a internet é um meio, você usa como quiser. Tenho um pouco de medo da velocidade, das pessoas ficarem muito na superfície das informações e não se aprofundarem. Não pararem para ler algo mais extenso, para ouvir o disco, refletir e contemplar. Ao mesmo tempo, acho que tem seu lado positivo. Primeiro que é um sonho que eu tinha na minha infância, de entrar em uma livraria e ver todos aqueles livros que eu queria comprar e não podia. Ou uma loja de discos. Hoje em dia você tem acesso a todo tipo de informação, isso é uma liberdade incrível. É um instrumento que cada pessoa vai se relacionar de uma forma pessoal, acho que depende muito de cada um. Não acho que dê pra generalizar a internet em boa ou má, porque isso de certa forma menosprezaria a capacidade pessoal de cada um em se relacionar com ela.

Arnaldo Antunes e Titãs

"Eu sai dos Titãs pra poder mudar outras faces da minha produção que não cabia naquele conceito de oito pessoas. Nunca teve uma discordância do que os Titãs estavam fazendo, se eu quisesse continuar fazendo aquilo eu continuaria numa boa. A gente inclusive continua parceiro. Mas tinha esse desejo, de não só mostrar composições que não cabiam ali no Titãs por uma questão consensual, mas também mostrar outras formas de interpretar. Eu me lembro que eu cantava todas as músicas em tons mais altos que a minha região natural de voz pra poder brigar com o peso da banda, com exceção de "O Pulso". É um tipo de interpretação que eu ainda tenho em algumas canções, mas essa possibilidade de explorar tons mais graves pintou porque eu optei pela carreira solo. E também outras formações instrumentais, poder exercer essa liberdade."

Reprise: Carioca

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Felipe Chiri/Trip FM

Carioca

Carioca

O papo de hoje é com Márvio Lúcio dos Santos Lourenço, o Carioca do Pânico, um dos mais importantes humoristas do Brasil e um verdadeiro mestre das técnicas de imitação. Natural de Niterói e criado em São Gonçalo, cidade que compõe a região metropolitana do Rio de Janeiro, ele estudou Jornalismo e, em 1996, conseguiu um estágio na rádio Jovem Pan.

Contou muita camiseta, colou muito adesivo em carro, gravou muita vinheta e, alguns meses depois, conseguiu a tão sonhada vaga no programa Pânico. Sua aptidão para a comédia, que vem da família, e seu talento nato para as imitações o transformaram na principal atração do programa, seja na pele de Amaury Dumbo, de Jô Suado, de Zeca Tamagro, ou em sua versão original, o Carioca.

Setlist do programa:

Santana - "Evil Ways"
Lulu Santos - "Adinvinha o Que" 
Rodriguez - "Inner City Blues"
The Heavy - "Longway From Home"
Cake - "Commitioning a Symphony in C"

Guga Chacra

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Reprodução

Guga Chacra

Guga Chacra

O Trip FM recebe esta semana o jornalista e especialista em política internacional Guga Chacra. Guga é correspondente internacional do jornal O Estado de S. Paulo em Nova Iorque e comentarista do canal a cabo Globo News. Ele fala sobre a situação política dos EUA, sobre a visão que ele tem do Brasil, vai falar da nossa situação econômica, da situação das nossas cidades, vai comentar alguns dos mais palpitantes assuntos da política internacional atual, e, claro, vai falar da vida de correspondente internacional.

Paulistano, ele se formou em jornalismo pela Cásper Líbero e fez mestrado em Relações Internacionais na Columbia University. Em 2000 começou sua carreira de correspondente internacional atuando pelo jornal Folha de S. Paulo em Buenos Aires, na Argentina. Entre 2008 e 2009 foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e realizou reportagens em locais como Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes e Chipre. Atualmente ele é o correspondente do Estadão em Nova Iorque e na ONU e também atua como comentarista do canal a cabo Globo News.

Playlist da semana:

The Cure - The Lovecats
Arnaldo Antunes - Não vou me Adaptar
Luciole - J'Attends
Dave Matthews Band - What Would You Say
Alton Ellis - Rocksteady

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